domingo, 20 de setembro de 2009

Uma entrevista histórica com Lula e uma análise de Luis Nassif

Mandei este e-mail hoje para vários amigos e conhecidos e estou colocando aqui no blog também.

Oi gente,

Encaminho o texto abaixo (uma análise feita pelo jornalista Luis Nassif), com um link para a entrevista que o Valor Econômico fez com o presidente Lula http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2009/9/17/lula-propoe-uma-consolidacao-das-leis-sociais. Aos que não acompanham os assuntos políticos e econômicos do país, ou aos que acompanham e pensarão logo "Que saco!", explico o por quê de enviar este texto e o link da entrevista: porque já passou da hora de acabarmos com essa visão preconceituosa de que o Brasil tem um semianalfabeto na presidência.

Lúcido, com visão de futuro e ações que vão marcar o período em que governou para a história do Brasil, Lula não brinca quando diz "nunca antes na história desse país", porque realmente "nunca antes na história desse país" muitas coisas aconteceram nestes agora sete anos de Governo Lula.

Algumas discordâncias? Sim. Decepções? também. Poderia ter feito mais? Sim. Diferente? claro. Há críticas a fazer? Muitas. Mas é impossível negar os avanços que tivemos em tantas áreas. Por uma competência maior? Por uma forma de governar diferente? Sim. Mas não nos detenhamos a este tópico. A resposta é: por uma visão de mundo diferente dos que enxergam no mercado e no estado mínimo ainda uma solução para o Brasil e para o mundo. Por uma visão de governo que enxerga o Brasil e os cidadãos e luta para que tenham um pouco do quinhão da riqueza produzida por eles mesmos.

Na função de repórter tenho tido a oportunidade de viajar para alguns lugares do interior de Pernambuco e conversado com pessoas bem diferentes, de várias classes sociais. O que tenho visto por aqui é que no futuro falaremos do período antes de Lula e depois de Lula. Por que? Porque "nunca antes na história desse país" :-) o povo teve tanto acesso aos estudos como agora.

A instalação de escolas técnicas e universidades em lugares tão diversos e distantes da capital está revolucionando as sociedades desses locais e transformando uma realidade sempre marcada pela discriminação e pelo analfabetismo. Ver pessoas cujo único destino era ser agricultor na terra de "sinhôzinho", empregada doméstica ou babá - no máximo, professora primária, ou migrante nordestino no Sudeste - agora cursando a universidade e usando nas suas localidades técnicas modernas de plantio, de atuação social e com perspectivas muito mais amplas de futuro, e enxergar no discurso delas a diferença do que é ter acesso à educação e consciência de seus direitos e deveres, é muito gratificante. Uma oportunidade que talvez não tivesse se seguisse outra profissão.

Antevendo que em 2010 teremos de novo todo o discurso preconceituoso de volta, ou ainda... E que mais uma vez os grandes meios de comunicação vão se unir para "disfarçadamente" defender seus projetos políticos, mascarando com matérias supostamente imparciais a realidade das ruas, acho válido encaminhar este e-mail. Assim como nas últimas eleições, a internet, os blogs e as redes sociais devem fazer a diferença no acesso à informação. Então, se temos que driblar de alguma forma o establishment, que seja desde já.

beijos a todos,

Juliana Cavalcanti (Ju, Hip)


Abaixo, uma análise de Luís Nassif sobre a entrevista e sobre Lula. E aqui, o link para ler a entrevista do presidente ao Valor Econômico: http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2009/9/17/lula-propoe-uma-consolidacao-das-leis-sociais

Uma entrevista histórica com Lula
Do Último Segundo
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/

Coluna Econômica – 17/09/2009

Há tempos, era possível vislumbrar o que seria a crise global do financismo e o que viria depois. No meu livro “Os Cabeças de Planilha” – lançado em 2005, mas com escritos de alguns anos antes – preconizo a volta do nacionalismo, da defesa da produção e do emprego nacional, como um dos elementos centrais da nova política do país. E, nessa linha, a convocação das grandes empresas brasileiras, das estatais, a articulação das pequenas em cima de um pensamento comum.


No seu primeiro mandato, Lula marcou passo, manteve a ortodoxia do Banco Central, avançou pouco em novas políticas. No segundo, pegou no breu, com a massificação de políticas sociais. Com a crise mundial, o ganho de competência na gestão (com PACs, Luz Para Todos etc) e, agora, o pré-sal, consolidou seu pensamento. No jornal O Valor de ontem, concedeu sua mais importante entrevista. Pela primeira vez, ficou claro o que o mundo viu em Lula. Na entrevista, Lula sintetiza de forma singular qual o país que irá legar. Não foi uma lista de obras ou de feitos, mas uma conjunção de princípios econômicos e políticos que entrará para a história.


***


Em relação aos próximos passos, fala de um novo PAC para o período 2011-2015, uma lei consolidando todas as políticas sociais, a medida garantindo a universalização do acesso à Internet.

Mais importante são os conceitos exarados:

* um salto em direção à industrialização com o uso de ferramentas de política industrial. Como, por exemplo, na decisão de aproveitar o pré-sal para construir um novo pólo petroquímico;

* a responsabilidade das grandes multinacionais brasileiras em investir no país olhando o futuro e não o seu caixa. É quando cobra da Vale os investimentos em novas siderúrgicas para o país não se conformar em ser um mero exportador de minérios.

* acabar com essa história de que todo investimento deve se fixar exclusivamente nos custos (o que justificaria importar quase tudo): “quando começamos a discutir com a Petrobras a construção de plataformas, ela dizia “nós economizamos tantos milhões. Eu falava, e os desempregados brasileiros, e os avanços tecnológicos brasileiros?”;

* sobre o papel do Estado, consolidou a ideia de que o Estado não pode ser o gerenciador, o administrador. Tem que ter o papel de indutor e de fiscalizador”.

* O papel das Estatais, passando por cima das conveniências políticas. Mostra que ao comprar a Nossa Caixa, perguntaram se não se incomodaria em fortalecer o candidato José Serra. Mas era importante para alavancar o crédito, especialmente na crise.

* Sobre o fortalecimento do Estado, rebateu a ideia de que basta uma reforma fiscal e arrochar salários do funcionalismo para resolver a questão. Mostrou como o setor público perdeu quadros preciosos por falta de salários. E a importância do reforço em áreas chave, como educação. O importante é analisar os serviços que o Estado presta e procurar aperfeiçoá-los.

* Rebateu a tentativa de alguns setores aliados de criar um “risco Serra”. Mostrou que, entre quem entrar, não haverá loucuras nem com o Banco Central nem com o mercado

Sobre Estadistas – 1

Um dos atributos do estadista não é apenas o de construir o futuro de um país. Por não ser um intelectual, não sofistica o discurso. Mas tem a capacidade de identificar o essencial e comunicar em linguagem clara e objetiva. No Brasil pós-ditadura, três políticos juntaram esses atributos. Mesmo sendo um desastre político, Fernando Collor teve insights brilhantes, definir o rumo para os quase vinte anos seguintes.

Sobre Estadistas – 2

De seu lado, o governador paulista Mário Covas conseguiu definir um discurso de casamento da política com o bem comum e da importância da responsabilidade fiscal, que seria uma das marcas dos anos 90. Junto com Sérgio Motta são os políticos que dão o tom da social democracia do PSDB, que se perde depois com a diluição do governo FHC e com sua liderança posterior, descaracterizando o partido.

Sobre Estadistas – 3

Na entrevista, Lula consolida definitivamente os valores que marcarão o país daqui para frente: responsabilidade fiscal; resistência total contra a inflação; defesa da produção nacional; extensão da responsabilidade sobre o país para todos os setores, não apenas o governo; a importância fundamental da inclusão social; a visão da política, sem as radicalizações de outros momentos e de outras campanhas.

Sobre Estadistas – 4

A maneira como se refere aos candidatos – Dima, José Serra, Marina Silva e Heloisa Helena – mostra o político que prepara-se para sair de cena colocando-se acima das paixões da política diária. Qualquer um deles seria ótimo para o país, por casarem responsabilidade social com seriedade e visão próxima sobre o futuro. A maneira como desmonta o terrorismo contra Serra é exemplar.

Sobre Estadistas – 5

Deve-se ler várias vezes a entrevista para se acreditar nela. Não se trata de boa vontade com o sindicalista que fala errado mas se expressa bem. O que impressiona é a doutrina exposta, a capacidade de identificar os pontos essenciais na construção de um país, a lógica objetiva com que expõe os princípios. Enfim, uma aula de teoria política inimaginável a alguém com a formação de Lula.


Sobre Estadistas – 6

Com seu discurso, além disso, ele procura esvaziar a grande ameaça que poderia comprometer o futuro do país: a radicalização nas próximas eleições, criando um clima de divisão do país e expondo o vitorioso a quatro anos de guerra com a oposição. Depois o início atabalhoado de seu governo, do episódio do “mensalão”, da falta de traquejo inicial para alianças, Lula chega ao último ano como um dos presidentes fundamentais na história do país.