sexta-feira, 22 de maio de 2015

Das coisas que observo por aqui (2)

1. Gostar de dirigir não significa que você gosta de carro. Na minha visão, italianos gostam de dirigir, mas não têm muito apreço pelas máquinas. A média do povo dirige muito mal e os carros são sempre arranhados, batidos, sem retrovisor às vezes, ou com o párachoque meio caído. Já andei em cidades de Norte a Sul e é sempre a mesma coisa. Os carros ficam nas calçadas, as balizas às vezes são manobras surreais de acompanhar e muitos veículos têm a placa torta ou simplesmente presa por uma gambiarra.

2. Outra coisa que é fácil de reparar é que aqui as regras de trânsito foram feitas para serem desrespeitadas. Olhe bem antes de atravessar uma rua e não confie num sinal fechado e numa faixa de pedestres. Na Sicília eu vi carros e motos na contramão e a faixa de pedestres às vezes eu achei que era um alvo para um jogo de boliche. Giovanni, meu amigo espanhol, diz que a morte típica de um turista desavisado na Itália deve ser atropelado por uma vespa ou por uma moto. Não coloque o pé na rua antes de os carros pararem, pois você corre o risco de perder uma perna.

3. Os ônibus são novos, no nível das calçadas, silenciosos e ninguém reclama de um freio brusco, de uma curva maluca ou de uma arrancada de repente. Os motoristas às vezes dirigem como os motoristas de ônibus no Brasil, mas respeitam a velocidade permitida sempre. Não tem cobrador e sempre entram fiscais para verificarem os bilhetes. Estar sem o bilhete ou não validá-lo rende multa, aplicada na hora. Tanto nos ônibus, quanto nos trens.

4. Andar de trem é um barato! Comecei tímida, aprendendo como me portar no trem, observando as pessoas, os caminhos, as paradas. Um pouco tensa com medo de não chegar na hora. Perdi o trem algumas vezes. Mas agora estou realmente encantada com esse meio de transporte. Já tinha viajado de trem outras vezes, mas nestes meses foram muitas e muitas viagens, com mala e sem mala, e já posso dizer que sou uma "expert"! :-D

6. Aprendi com Tati, uma amiga do Rio, que nos trens regionais (estes sem lugar marcado) não se deve viajar nem no primeiro, nem no último vagão, pois são os escolhidos por quem não quer pagar a passagem. Às vezes tem confusão, os fiscais são mais abusados nestas carroças e se você pode ir mais no meio é melhor.

7. Outra coisa é que o trem pode até atrasar, mas você não. Perdi o horário umas duas vezes, em trens regionais. Deve-se prestar atenção ao tipo de viagem que você comprou. Se pagou mais barato por um trem regional, não pode viajar no trem rápido. Deve esperar outro do mesmo tipo. Senão paga multa. É bem educativa essa história da multa. Já vi algumas pessoas sendo multadas, ou porque não prestaram atenção, ou porque deram uma de "João sem braço" mesmo.

8. Mala pesada e viagem de trem não podem estar na mesma frase. As estações têm escada, nem sempre rolantes, e nem sempre, claro, tem elevador. Você carrega sua própria mala e deve colocá-la nos maleiros. Em italiano se diz "fazer academia" (fare la palestra), mas também se diz "fazer o músculo" (fare il musculo). Vendo o tamanho da minha mala em Catânia, o maquinista do trem disse bem alto e tirando onda: "Mà, tu fai il musculo con questo!!!". "- Certo!" - não podia dar outra resposta além desta. E rimos! Então, é bom lembrar que tudo o que comprar terá que carregar você mesmo. É uma forma bem prática de economizar. Eu não comprei nada, só ímã de geladeira, e acho que da próxima vez viajo só com uma muda de roupas. Porque "fazer os músculos" numa viagem dá muito trabalho!:-P

9. Fui para a Sicília de trem, pelo litoral, e posso dizer que a viagem é longa; sim, é cansativa!; mas uma vez na vida ver a paisagem mudar e viajar quase dentro do mar pela ferrovia litorânea é algo encantador. Quando chega no fim da Calábria, é hora do trem entrar num navio e ser conduzido pelo mar para a Sicília. Você pode descer do vagão e sair para olhar a paisagem lá de cima. É lindo! É emocionante! Mas não esqueça de que carroça desceu para voltar para o mesmo posto depois de uns 20 minutos. O trem partirá, com ou sem você, é sempre bom lembrar.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

A língua italiana e a tecla SAP

No prédio em que morei em Florença, eu tinha dois pequenos vizinhos. Devem ter uns cinco ou seis anos. Pela manhã estavam sempre atrasados, com sono, com fome, com preguiça. No fim do dia, sempre animados, falantes e rindo. Todo dia de manhã saíam de casa choramingando. Todo fim de dia voltavam pra casa se divertindo.

Acompanhar os italianinhos, mesmo que apenas nas conversas de corredor, era observar como aprendem a língua e já falam ritmados desde pequenos e ter a certeza de que a cada palavra dita na rua por mim, os italianos terão a certeza de que sou estrangeira. Porque mais do que aprender a falar italiano, você deve aprender a "cantar" italiano. E não acredito que exista uma técnica para isso.

Talvez depois de muitos anos vivendo aqui uma pessoa consiga um ritmo semelhante. Será bravissima! :-)

Por mais que tenha perdido o receio de falar e hoje em dia já me comunique sem medo de colocar uma vez ou outra uma palavra em português e outra em espanhol no jogo de advinhação que às vezes se transforma conversar numa língua que não é a sua, tenho certeza que não tenho o modo de cantar italiano. E tenho problemas com a conjugação dos verbos (muitos tempos, muitas formas, da mesma forma que o português e o francês).

Essa certeza é reforçada quando falo com alguém num hotel, ou numa loja, e a resposta vem em inglês e espanhol. Sinal de que a pessoa percebeu de cara que o italiano não é a minha língua mais original. :-D Mas o povo daqui é gentil e sempre diz que você fala muito bem (talvez gostassem de completar: para uma estrangeira! eheheheheheheh...).

Além de falar gramaticalmente certo, o meu desejo é um dia utilizar todas as pequenas expressões que fazem o ritmo da conversa. "Mà dai!", "Beh!", "Figurate!", "Magari!" e Valeriu, meu amigo romeno, reparou que em Roma eles também falam muito "Má per carità!".

Aqui na Sicília eu descobri que uma nova língua e às vezes me pego vendo apenas as bocas se mexerem e delas saírem vários e vários sons sem nenhuma explicação. kkkkkkkkk... Os italianos do Sul falam mais rápido e têm muitas expressões idiomáticas e um jeito de falar que penso que deve ser um dialeto específico. Eu que achava que estava com a compreensão ótima e a audição afiada, agora às vezes penso que devo retornar à casa 1 do jogo do aprendizado de uma nova língua.

Outro "problema" que eu estou tendo é que depois desses meses minha tecla SAP está gravemente avariada e não consigo me lembrar de muitas palavras em inglês e em espanhol; línguas que eu falava razoavelmente sem problemas. Agora tenho uma salada de frutas de idiomas no meu cérebro e espero que eles se reordenem quando eu voltar para o Brasil, porque tenho me sentido muitas vezes num jogo de caça-palavras estrangeiras.

O português, claro e obviamente, essa língua linda e maravilhosa, continua sempre comigo.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Das coisas que observo por aqui

1. Se você não tem nenhuma restrição alimentar. Não é vegetariano, não tem intolerância a glúten ou a lactose, não tem alguma alergia, não pergunte do que é feita a comida. Prove, depois pergunte. Talvez você deixe de comer o “manjar dos deuses” por conta de uma curiosidade antecipada. :-) No meu caso, tenho restrição a carne de cavalo e outros animais estranhos (incluindo felinos, insetos e répteis, entre outros). No mais, não sendo nenhum desses itens no cardápio, eu evito perguntar do que é feito. Em Parma eu perguntei ao dono de uma Paninoteca o que era "Salame di Felino" e ele se acabou de rir. eheheheheheheh... "Não é de gato, não!!! É de uma cidade próxima daqui. O salame é feito lá!". Neste caso, achei melhor perguntar - mesmo sabendo que era pouco provável o que eu pensei quando li a placa anunciando a iguaria. kkkkkkkk...

2. Evite comer num lugar cheio de turistas. Jamais, em hipótese alguma, pague 6 euros por um sorvete, muito menos numa sorveteria que coloca os sorvetes em formato de montanha gelada – para atrair os desejos por açúcar dos visitantes incautos. Nas melhores sorveterias o “gelato” com dois sabores custa 2 ou 2,50 euros o copinho pequeno;  e o sorvete não fica numa montanha gelada, mas dentro de potes num frigorífico normal. Os sorvetes de montanha normalmente são caros e não são bons.

3. A pergunta certa não é “Onde é o melhor restaurante?”, muito menos “Qual é o melhor lugar para comer?”. A pergunta “correta” é “Onde você comeria com a sua família?”, ou “Onde os florentinos, milaneses, napolitanos, romanos, sicilianos comem?”. Se alguém te responder isso, sinta-se um privilegiado por encontrar os melhores restaurantes e sorveterias de qualquer lugar! Incluindo a Itália.

4. Antes de subir em qualquer torre, igreja, museu e afins pergunte como é a subida, quantos degraus tem, se é num lugar apertado, se tem janela no meio do caminho, se tem como sair na metade, se tem elevador. Se a subida for ao ar livre (um passeio, por exemplo), pergunte se precisa de sapato especial, se uma pessoa sedentária consegue fazer, se precisa de alguma coisa especial para completar a jornada. Não pague nenhuma entrada ou passeio sem essas questões bem claras! Se você é sedentário, tem problema de joelho, tem problemas cardíacos, é claustrofóbico, é gordo, tem muito frio, tem muito calor... vá por mim, pergunte! Depois que eu subi os 464 degraus do Duomo da Catedral de Santa Maria de Fiore, em Firenze, eu ainda subi outros mais de 300 na Torre do Palazzo Vecchio e sei lá mais quantos em outras muitas igrejas, posso falar por experiência própria: não vale a pena! Escolha uma subida e vá com fé! As outras vistas serão muito semelhantes.

5. Em Florença, para mim, o melhor lugar para ter uma vista da cidade do alto é Fiesole e pra lá você vai de ônibus (n. 7, passa na Piazza San Marco) e quando sai do ônibus já está bem alto. Eheheheh... No Duomo eu achei que ia enfartar e, a cada 5 minutos, que ia morrer sufocada. Os corredores são muito estreitos e pra ver o lado de fora antes de chegar lá no alto tem só umas minúsculas janelas! Em todas elas eu parei, olhei pra fora e mentalizei: “Estou ao ar livre, tem muito espaço, sou um pássaro!” – e isso não é brincadeira, Foi exatamente desse jeito! Quando cheguei lá em cima (tudo bem, a vista é muito bonita!), eu só pensava que ia ter que descer os 464 degraus!!! E no dia seguinte meus joelhos estavam esgotados! Porque se a subida é difícil, a descida é o grande desafio! Enfim, se tem uma escada enorme num edifício qualquer, a possibilidade de eu “dar por visto” agora é grande. \o/

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Uma reflexão

Cheguei na Itália no inverno, com temperaturas que variavam de -1 °C a 12 °C e com uma chuvinha gelada que caía de vez em quando. No meu primeiro dia em Florença, a caminho da aula, caiu um temporal. Foi quando comprei uma sombrinha do primeiro ambulante que cruzou a minha vista. Entre muitas de cores escuras, havia só uma azul.

Azul de meio de manhã, de céu limpo, em dia de sol e sem nuvens.

Por dois meses, quando chovia, fui a moça do guarda-chuva azul. A sombrinha era "peba", mas resistiu bem e até acompanhou a missa de Páscoa no Vaticano. Semana passada, depois de um temporal com ventania, me despedi da sombrinha azul. Foi uma boa companheira.

Mudou a estação. Aumentaram as temperaturas. Agora as árvores são verdes e as ruas são cheias de flores. O céu já tem com mais frequência o tom parecido com o da minha sombrinha azul. Mudei de fase.

Mais uma dentro de um processo longo de mudança e autoconhecimento que não começa com esta viagem. É bem anterior a ela. Na verdade, esta vivência italiana é o fim de uma etapa, o fechamento de um período de transformação.

Ah, os clichês! Nada mais clichê do que mudar o visual ou fazer uma viagem para marcar o fim ou o início de uma fase da vida. Mais clichê que isso, apenas escrever isso! Eheheheheheheh... Sendo eu uma pessoa que assumidamente admira os ditados populares - cheios de clichês e sabedoria - me permito pensar e escrever essa bobagem necessária para registrar este encerramento. "Cada dia com a sua agonia". "É preciso viver um dia depois do outro". "Depois da tempestade vem a bonança" (ou a primavera!).

Além do conhecimento adquirido (porque não se viaja para o Velho Continente sem que essa cultura exerça um impacto grande na vida), penso que levo daqui bons amigos. E isso é bem inesperado pra mim. Gente diferente, com experiências distintas e ao mesmo tempo com muita coisa em comum. Muita vida pra trocar, muito afeto pra compartilhar. Me sinto feliz e já tenho saudade também.

Não sei o que acontecerá quando voltar ao Brasil. A viagem continua, mas os planos começam a exigir alguma ordem e agora me divido entre experimentar o novo de cada dia e programar o futuro imediato pós-retorno. Tenho muito trabalho pela frente e isso me deixa entusiasmada.

A realidade às vezes não permite que a gente rompa padrões, transforme radicalmente a existência. Tenho conhecido por aqui muita gente que decidiu mudar a vida, ou que procura uma saída, mas ainda não encontrou uma forma, ou não tem como mudar. A realidade às vezes, simplesmente e sem alternativas, se impõe. Inclusive em favor das mudanças inesperadas.

Tendo isso em mente, posso dizer que me sinto tranquila e em paz por ter podido planejar essas mudanças. Independente do que me espera na volta ao Recife, posso dizer que tenho aprendido e experimentado, trocado conhecimento e afeto e reforçado também algumas certezas. De que ponto de vista eu vejo o mundo, o que me indigna e o que admiro, quem são e onde estão as pessoas, as forças e as ideologias com quem quero caminhar lado a lado. É isso. Que venha o dia de hoje!

terça-feira, 7 de abril de 2015

Eu vi o Papa e ele é pop

Se vir a Roma e não ver o Papa é como nunca ter estado na cidade (segundo um ditado popular brasileiro), então esta foi a minha primeira vez neste lugar mágico. Quando joguei minha moeda na Fontana de Trevi em 2013 desejei voltar incontáveis vezes a Roma e não apenas uma. Desejei ter com Roma a relação que tenho com o Rio de Janeiro. De me sentir uma “local”. Acho que o desejo está se realizando e espero que continue assim. Firenze é linda. Lucca é uma casa de bonecas e estar um dia naquela muralha medieval foi incrível. As outas cidades que visitei até agora são igualmente belas. Mas Roma foi amor à primeira vista; foi um encantamento sem explicação que tem se repetido a cada retorno.

Desta vez voltei na Páscoa, para encontrar Rosane e Nacho – dois amigos queridos que moram em Zaragoza, na Espanha, e estavam numa mini Lua de Mel romana. Não tenho vocação para vela e por isso cheguei em Roma só no sábado (04 de abril), para passarmos uma tarde e um pedaço da noite colocando o papo em dia. Foi massa! Roma é tudo de bom e com amigos é muito melhor.

Choveu o dia todo, um frio de lascar e pra completar eu ainda “amadorizei”: deixei a sombrinha no hotel. Então foi um dia de corre pra lá e pra cá e de rezar pra chuva não chegar enquanto estivéssemos no meio da rua. O santo da gente é forte e pegamos apenas chuvisco a maior parte do tempo. Quando a chuva chegou forte, com ventos, raios e trovoadas, já estávamos no caminho do hotel. Foi um dia incrível, com direito a passear na Piazza del Popolo, pelo Campo de Fiori e seguir caminhando para Trastevere.

No dia seguinte, domingo de Páscoa, os meninos voltaram pra casa e eu segui, no frio e na chuva, para o Vaticano, determinada a ver a Missa de Páscoa com o Papa Francisco. E foi o que eu fiz. Cheguei com a missa já iniciada, passei pelo detector de metais e na Piazza de San Pietro o papa era um pontinho branco no meio da porta da basílica e uma imagem, bem maior, no telão. Mas uma imagem distante. Pra mim estava bom. Todas aquelas pessoas diferentes, de nacionalidades diversas, juntas no mesmo espaço, celebrando a paz. Achei que era um ambiente ideal para passar a Páscoa.

Sou batizada, frequento a missa de vez em quando, mas não boto muita fé na Igreja Católica. Tenho uma religião própria: uma mistura de crenças e superstições que me fazem dizer que não tenho religião. Creio numa energia, no respeito ao próximo, na força do pensamento e no querer bem. Na missa católica a parte que mais me emociona é “a paz de Cristo”. Acho bonito quando as pessoas se cumprimentam e desejam a paz, apertam as mãos e se dirigem a desconhecidos. Fazer isso na Praça de São Pedro com todas aquelas pessoas diferentes foi o mais emocionante pra mim. Mesmo sabendo que depois da missa cada um foi para a sua casa e muito daquela comunhão foi esquecida no primeiro passo fora do Vaticano, me senti num ambiente de amor e paz.

O sermão do Papa foi forte, falou da violência, dos massacres na África (até então eu não sabia do atentado que matou 150 pessoas no Quênia, pois estava sem acessar a internet), da responsabilidade de cada um e de cada nação para alcançar a paz. Foi bonito, foi mais político do que muitos esperavam. Foi marcante.

Francisco já havia ganho a multidão muito antes do sermão, pelo seu carisma, e porque antes de seguir para a parte final da missa, de repente, não mais que de repente, entrou num papamóvel e começou a circular pela Praça de São Pedro - acenando e distribuindo sorrisos, bem pertinho de todo mundo, inclusive de mim.

De modo que eu posso dizer que vi o Papa Francisco a uma distância de 10 passos – mesmo com a minha altura pouco recomendada para momentos como estes, nos quais a multidão cresce bastante na frente dos baixinhos. Entre ver o Papa e fotografar o Papa fiquei com a primeira opção (certamente errada nos tempos pós-modernos, mas a mais acertada para mim, que me satisfaço em experenciar).

Vi Francisco, ele sorria, e acenou para mim e para todos que estavam na mesma direção. Foi emocionante. E não esperava sentir e dizer isso. O Papa Francisco é um bom marqueteiro e tem carisma; e reconheço que está falando e fazendo coisas que “modernizam” o discurso da Igreja Católica (apesar de não me convencer enquanto instituição).

Quando Francisco terminou o circuito e finalizou com o sermão político-religioso a multidão já estava totalmente dominada, encantada com aquela figura religiosa, política, festiva. Um papa popular.

Segui o meu caminho por Roma pensando que Francisco foi o segundo papa que vi. O primeiro foi João Paulo II, no Recife, quando eu tinha 3 anos, na visita de 1980. Não lembro da cara do papa nesta época, óbvio, mas lembro de estar na Agamenon Magalhães, nos braços da minha tia, com minha irmã nos braços da minha avó de criação, e de ouvir elas falando: “Olha lá o papa!!! Dê tchau para ele!” (ou algo parecido). E lembro do Papa passando num carro – que hoje acredito que era um papamóvel também.

Neste domingo de Páscoa ninguém mandou, mas eu acenei para o Papa, Francisco, totalmente dominada pelo seu carisma. É isso. “Só sei que foi assim”. Que a paz esteja conosco. Não apenas no domingo de páscoa, mas em cada dia, todos os dias.

* A foto do telão, de longe, é o que eu tenho pra mostrar. :-)

terça-feira, 31 de março de 2015

Conhecendo uma cultura pelo paladar

Eu tenho pouca frescura para comer e muita “curiosidade culinária”, ou "curiosidade gastronômica" (confesso que não sei a diferença entre culinária e gastronomia. Por favor, alguém que entenda de doce de leite e de baunilha (argentino, Itambé e/ou de Madagascar), se souber, pode explicar! :-))). Gosto de experimentar sabores diferentes e de cozinhar também. Então, aqui na Toscana, tenho me permitido provar o cardápio da culinária local. Tento controlar a quantidade de doces e massas porque não quero ser impedida de embarcar de volta por excesso de peso! E caminho bastante todos os dias. Porque a rotina é de caminhar mesmo. Pra turistar, pra estudar, pra ir e voltar... aqui na Itália as pessoas caminham mais e sobem e descem trocentas escadas por dia. Então, haja fôlego! Você come e quase gasta tudo no mesmo dia (uma vantagem).

Voltando à comida, ou ao cibo (em italiano se fala tchibo), ir ao supermercado é quase uma tortura. Para mim, principalmente a seção de queijos. Sem capacidade de me alimentar só de formaggio e sem conta bancária que permita comprar todos os tipos disponíveis, experimento um ou dois diferentes por semana. E vivo um dilema gastronômico: como voltar a comer a muçarela/mozarela brasileira depois de mangiar a mozzarella italiana?!

Não gosto dos panini vendidos nas lanchonetes (sempre parecem descansar nas vitrines mais tempo do que o recomendado), mas não há como resistir a todos os tipos de presuntos, mortadelas, salames e embutidos com nomes que nem sempre são decifráveis, mas de sabores únicos.

Dos sabores da Toscana, ainda não experimentei a bisteca fiorentina e estou em busca de companhia para prová-la, já que o prato é servido com nada menos que 1 quilo de carne!!! Quem sabe até o fim da temporada por aqui encontro alguém que tope a empreitada.

Comida típica é o sanduíche de tripa de boi, o “panino con lampredotto”. Provei e posso dizer que o gosto é estranho e o cheiro é horroroso! Depois que você sabe que é tripa a sensação piora. Eheheheheheh... Eles servem com um molho absolutamente proibido para quem tem hipertensão e no final você deseja estar junto da torneira mais próxima para beber toda a água de Florença. O lampredotto é um sucesso de público! É comum ver os florentinos esperando o seu sanduba ao redor das corrocinhas de rua. Valeu a experiência, mas não pretendo repetir.

Outra receita típica da Toscana é a “Torta da Nonna”. Experimentei na semana passada e posso dizer que dei um suspiro a cada garfada; mas não sei explicar exatamente do que é feita. É uma massa crocante por fora e um tipo de creme firme com sabor parecido com pastel de nata por dentro. A minha veio acompanhada de um pouco de chantilly e eu, que costumo repetir que não gosto de chantilly, desde a ocasião retirei este preconceito da minha cabeça. É de comer rezando! Uma frase feita totalmente aplicável à “Torta della Nonna”.

No mais, o molho de tomate daqui é “O Molho de Tomate”; já comi diversas entradas (cada uma mais saborosa que a outra), risotos, massas de vários tipos, provei diversos vinhos e cometi o pecado da gula inúmeras vezes tomando sorvete. O frio não favorece o sorvete – pelo menos para uma pessoa que está a maior parte do tempo congelando, como eu – mas ao menos uma vez por semana me aventuro e me permito novos sabores gelados.

Algo que estou fazendo, mas ainda não me reacostumei é a tomar água da torneira. Assim como em Roma, aqui todos garantem que a água que sai das torneiras e das fontes é super limpa e potável. Confesso que passei a primeira semana inteira tomando água mineral, mas a cotação do euro subiu, todo mundo toma água de torneira e em benefício do meu bolso, comecei a tomar a água cristalina que sai da torneira. Por via das dúvidas, assim como na outra viagem, já está reservado o remédio de verme pós-temporada italiana. Desculpem amigos, mas “seguro morreu de velho”. :-)

domingo, 22 de março de 2015

Do frio e do futebol

Faz frio. Uns dias mais, outros menos, mas pra mim faz sempre frio. Saio de casa com três meias e duas roupas térmicas. É incômodo, mas acho melhor do que sentir frio. Esta semana esquentou um pouco e já não amanhece com 2 graus. Durante o dia tem feito 14, 15... um dia desses fez 19 °C e eu me senti quase no verão! :-) Tenho saído até de vestido! Na partida da Fiorentina contra o Roma fazia uns cinco graus. Depois da agitação inicial, achei que ia perder os dedos dos pés e das mãos congelados.

Acho que é mais fácil ser mais feliz no calor. Uma roupa fresquinha e sempre a possibilidade de entrar num lugar com ar-condicionado. Ainda mais para uma pessoa que não gosta de vestir calça-comprida, como eu. Aqui, se está frio, você está cheio de roupas. E se por acaso “esquenta”, você não vai tirar (no máximo tira o casaco), já que em pouco tempo o frio virá novamente.

Eu e Giovanni (meu amigo espanhol) fomos a pé para o estádio. Bom para conhecer outra parte da cidade e bom para esquentar o corpo. A agitação do lado de fora é muito parecida com a do Brasil. Os italianos, pelo menos os de Florença, comem porcarias de carrocinhas de comida (a “food truck” popular, o nosso churrasquinho).

Aqui eles comem um sanduíche com um molho bem salgado de ervas e tripa de porco assada, chamada lampredoto; ou um sanduíche grande de carne ou salsicha, com verduras. Cerveja, refrigerante, água, etc. Fui de sanduíche de carne, até porque já tinha experimentado lampredoto e não pretendo repetir. :-)

O ambiente é meio confuso, a entrada não é tão organizada – apesar de os torcedores cadastrados terem apenas que aproximar o cartão de sócio de um leitor de código de barras e a entrada ser liberada. Nada de alguém conferindo. Se você não é sócio, mas tem um ingresso, da mesma forma: aproxima da máquina e a entrada é liberada.

Entretanto, ao contrário do Camp Nou, em Barcelona, onde a organização é impressionante, o lugar marcado aqui no “Campo de Marte” é apenas uma lenda e eu me senti no Arruda neste quesito. Logo na entrada, perguntamos a um outro torcedor como acharíamos “nossos lugares”; questão para a qual obtivemos uma resposta simples: “- Vocês não acham mesmo que vão assistir ao jogo dos seus lugares marcados, né?”.

Ao entrar no estádio, entendemos que simplesmente não seria possível. Eheheheheheheh... os lugares são marcados, mas cada um senta onde quer e quem chega mais tarde – como eu e Giovanni – não senta. É simples, autoexplicativo e parecido com o Brasil.

Dessa forma, fomos para o fundão, perto da galera que se encontra às 4:20. Sem lugar para sentar, mas do lado da “torcida organizada”. Gritos de guerra, músicas a favor, músicas contra o Roma, jogo de palavras e uma lista interminável de xingamentos que nenhuma aula de italiano na escola conseguirá ensinar. Bandeira roxas por todo lado, fogos coloridos e um cara com um megafone que fica agitando o pessoal. Faltou só a batucada, mas estava bem animado.

A Fiorentina jogou melhor, mas deixou o time do Roma empatar no segundo tempo, depois de o goleiro ter defendido um pênalti! Muita emoção, gente rezando, de costas para o campo, quase enfartando. No final, todo mundo já estava impaciente, por causa do frio. Quando o juiz (que teve a Nonna xingada de inúmeras formas) apitou o final, todo mundo bem rapidinho se dirigiu para a saída em busca de um lugar quentinho.

Diversão garantida, mais do que eu esperava. E uma corrida final para casa, em busca do aquecedor mais próximo. ;-)

Na partida de volta (Roma X Fiorentina), a Fiorentina ganhou de 3 a 0!!!! :-D

segunda-feira, 9 de março de 2015

Idioma universal, que coisa linda é uma partida de futebol!

Futebol é língua mundial. É um pouco clichê falar isso sendo brasileira, mas cada um com seu bairrismo. Nem todo mundo conhece os ídolos do baseball, ou do basquete, mas todo mundo já ouviu falar de Pelé e Maradona ao menos. Fiz amizade com um espanhol que está estudando na mesma escola que eu. Giovanni entende tudo de futebol e conhece todos os jogadores do presente e do passado. Ele fala rápido, é desenrolado e gosta de experimentar coisas diferentes.

Chamei para ir comigo à partida da Fiorentina contra o Roma na quinta-feira, pela Liga Europeia, Europa League, Copa da UEFA (não sei o nome do campeonato!). Perdoem amigos, mas eu gosto de assistir às partidas, do clima no estádio, adoro as narrações do rádio, mas não entendo nada sobre que time é o melhor, quem joga com quem e que jogadores são os craques... kkkkkkk

Giovanni sabe tudo, tentou me explicar, mas são muitos nomes pra decorar. Aprendi que o Juventus é o time com maior número de torcedores e que a Fiorentina tem um bom time, mas parece que o Roma está melhor colocado no campeonato. Sei que Mario Gomez é um dos  melhores jogadores.
O nome é quase igual ao do ator brasileiro Mário Gomes, achei que era nome de português, Giovanni me disse que o nome é espanhol, mas o jogador na verdade é alemão!!! Olhei agora no Google e Mario Gomez tem cara de alemão mesmo. É atacante.

Compramos o ingresso no Mercado Central de Florença, onde tem uma loja da Fiorentina. Pra conseguirmos o ingresso mais barato a atendente "sugeriu" que aderíssemos à torcida oficial do time. Sendo assim, agora posso dizer que sou torcedora oficial do Santa Cruz e da Fiorentina, pois ganhei uma carteirinha do time Viola que me dá direito a ingressos mais baratos para todos os jogos da equipe. eheheheheheh...

Saindo do mercado, todas aquelas bancas de vendedores, a maioria vendendo artigos de couro (um segmento forte do comércio local, já que Florença tem mais de mil fábricas de artigos de couro - bolsas, sapatos, cintos, carteiras, malas, etc). Conversa vai, conversa vem... Giovanni fala mais do que o homem da cobra e eu também não fico atrás, encontramos um casal de vendedores de artigos "pirata" da Fiorentina (um cachecol, 10 euros), cujo rapaz simplesmente sabe tudo de todos os jogadores brasileiros!

Romeno, Drago mora há muitos anos em Florença, fala italiano perfeitamente e é fã de Garrincha! Já viu inúmeros documentários sobre Garrincha, fala o nome de Elza Soares como quem fala português e contou todas as fofocas dos jogadores festeiros que por aqui passaram. Em termos de fofoca, Drago é uma verdadeira "Contigo!" dos bastidores futebolisticos.

Segundo dele, o único jogador profissional (que não bebia nem farreava, chegava no horário e cumpria com as atividades) por aqui foi Dunga. O resto se jogou nas baladas e na noite de Florença. Drago falou dos jogadores que admira, mas conhecia uma lista enorme de muitos outros que fui falando aleatoriamente. Falou, claro, de Garrincha, e de Sócrates, Falcão, Rivaldo, Roberto Carlos, Ronaldo (aqui Nazário e também gordo! ou grasso em italiano!) e Edmundo - com quem ele tem uma foto numa visita ao mercado e que diz ter feito o gol mais bonito que já viu na vida: um gol olímpico numa partida do campeonato italiano.

Drago se acabou de rir quando contei que Ronaldo participou de um programa na TV para emagrecer e que depois engordou tudo de novo. Eheheheh... foi muito divertido. Quinta-feira enfrentarei esse super frio para ver o jogo da Fiorentina contra o Roma. Espero ser pé quente para a Fiorentina como sou para o Santa Cruz. Podem tirar onda, mas nunca vi meu time perder assistindo a uma partida no Arruda. :-) Então, ao Campeonato Europeu!

sábado, 7 de março de 2015


Siena. Itália. Sábado. #italia #siena #turismo

sexta-feira, 6 de março de 2015

A arte que encontra a gente em todo lugar

O mundo é um ovo. Qualquer um que pense o contrário cedo ou tarde mudará de ideia. Posso estar um dia no Recife e no outro em Florença. E o inverso também é possível. Hoje fizemos um passeio chamado "Conhecendo a Florença Secreta". Um tour pelas ruas menos visitadas pelos turistas, com informações talvez um pouco diferentes de quem faz o roteiro dos grandes guias de viagem.

Uma brasileira, uma alemã, um espanhol, uma francesa, uma belga e uma argentina. O guia era italiano. Das famílias ricas que financiavam a arte, os Médici eram os mais importantes por aqui e muito de tudo que vimos foi construído, planejado e concluído com o dinheiro e o poder dos Médici.

Em Florença é possível ver conservadas ruínas do período romano e construções de várias épocas e estilos artísticos. Do que restou da Segunda Guerra Mundial, do que foi reconstruído, do que foi preservado e de todas as histórias em cada trecho das ruas, vê-se uma cidade rica em arte, em movimento, em vida; com gente tão diversa quanto o nosso grupo de estudantes.

Dante Alighieri, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Brunelleschi, Vasari, Rafael Sanzio, Donatello - uma tarde conhecendo uma parte pequena de tudo o que é possível encontrar não só nos museus, mas em cada rua de Florença.

No fim do dia, depois de tanta informação e de tanta beleza, rumo ao bar - que ninguém é de ferro! E então, mais uma surpresa. Entre uma conversa e outra em tantas línguas, uma música chama a atenção. Demoro alguns segundos para confirmar que era mesmo Luiz Gonzaga e sua "Que nem Jiló" no som ambiente da livraria-bar na qual entramos por acaso numa rua do caminho.

Direto ao balcão, perguntar à atendente de onde vem aquela seleção musical, ao que ela naturalmente responde: "- Estive no Brasil há 20 anos; passei alguns meses viajando por Pernambuco, pelo Sertão e fui ao Rio Grande do Norte também". Natalia conta que adora música brasileira e forró e revela que todas as segundas-feiras, neste mesmo bar, acontece um forró! Com um trio de zabumba, sanfona e triângulo! Um arraial no meio de Florença!!! Toda segunda!

Meu queixo no chão e a lembrança imediata de que na Suécia, em 2009, descobrimos e fomos a um forró no meio de Estocolmo, que acontecia uma vez por mês. A arte é universal e a música talvez seja a expressão maior dessa universalidade. Clássica ou popular.

Em italiano não se diz "ouvir a música", mas sim "sentir a música". Desde a primeira vez que me explicaram isso achei tão lindo e tão maravilhoso que um idioma "fale" em "sentir a música", "sentir o som". Sentir Luiz Gonzaga em Florença esta tarde foi emocionante e confirmou para mim, mais uma vez, a máxima do "mundo pequeno". Aqui em Florença, em Estocolmo e em Pernambuco Luiz Gonzaga criou algo que exprime um sentimento que ultrapassa o entendimento de qualquer idioma.

Saímos do bar ao som de Geraldo Azevedo (Natalia havia trocado a trilha sonora) e seguimos cada um para sua "casa" temporária por aqui. Falando de futebol, música, arte, economia e cultura; numa mistura de idiomas que poderiam fazer qualquer diálogo incompreensível, mas que simplesmente faz sentido quando se tem boa vontade e interesse pelo próximo; quando se "sente" quem e o que está ao seu redor.



quinta-feira, 5 de março de 2015

Um desafio

464 degraus depois: Firenze. Quase enfartei! Mas a vista é maravilhosa. :-)


quarta-feira, 4 de março de 2015

Da beleza, do frio e da terra que treme as primeiras impressões

Tenho um endereço, uma rotina diária, sei o nome da atendente do mercadinho ao lado da minha "casa", tenho um telefone com número italiano e acesso a internet. Então, posso dizer que nos próximos meses sou moradora de Florença. Andei pelas ruas, a cidade é linda, respira arte e cultura, mas ainda não visitei nenhuma atração. Faz muito frio estes dias (amanhã há previsão de neve) e nesta madrugada aconteceu um pequeno terremoto.

Sobre o frio posso dizer que no primeiro dia pensei que o aquecedor do apartamento simplesmente não funcionava e que hoje comprei uma luva "de verdade", porque a minha tem estilo, mas não esquenta niente! eheheheh...

No segundo dia de aulas descobri que o aquecedor funciona, mas só no período determinado pelo governo. O gás é importado e muito caro, por isso há uma lei na Itália que proíbe que o aquecimento seja utilizado se dentro da residência não estiver menos que 19 graus. Pelo que entendi, ninguém fiscaliza, mas paga-se uma multa, e ninguém quer ser multado, né?!

Outra descoberta, preocupante para mim, é que a temporada do aquecimento a gás acaba no fim de março. Depois disso, "chova ou faça sol", com inverno prolongado ou não, fica proibido usar o aquecedor e cada um que se vire com o suas mantas, seus cobertores e suas roupas de frio.

Ontem foi um dia de sol e "calor": 17 graus. E amanhã vai nevar. Então, ainda bem que ainda estamos na temporada do aquecimento a gás!

Sobre o terremoto, confesso que não sei. Estava dormindo e assim continuei. Só soube que a terra tremeu hoje de manhã durante a aula. Uma colega alemã achou que estivesse com um episódio de labirintite. Portanto, vou considerar que foi um leve tremor de terra. kkkkkkkkkk...

terça-feira, 3 de março de 2015

sábado, 28 de fevereiro de 2015


Reencontro

Roma, sábado, 28 de fevereiro, 12 graus. Uma manifestação de extrema direita e outra de extrema esquerda começam em instantes na capital italiana. Vamo pra rua ver o que nos reserva este dia.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Fui!

Depois de um dia que começou ontem, descanso.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Jogando pra plateia...

Um governo que não tem projeto, simplesmente joga para a plateia. Acabo de ler na coluna de Jorge Cavalcanti que a Prefeitura do Recife decidiu cancelar a central de transmissão da Copa do Mundo no Recife Antigo, teoricamente por considerar o custo de R$ 20 milhões elevado para a montagem e manutenção do espaço durante todo o evento. Seria um "segundo carnaval", é o que dizem. Tenho minhas críticas quanto à condução do momento preparatório da Copa no Brasil, mas elas não passam necessariamente pelo gasto público no evento.

Vale destacar que praticamente TODAS as obras que estão sendo realizadas no Recife e na Região Metropolitana em função da Copa do Mundo estão sendo bancadas com recursos do Governo Federal. E que o governo do estado e a prefeitura do Recife vão faturar em cima disso quando tudo estiver pronto. Porque apesar dos atrasos, acreditem, vai tudo ficar pronto.

Aí, leio que a Prefeitura do Recife decidiu "romper" com a Fifa. A Prefeitura do Recife decidiu "romper" com a Fifa?????? Como assim, Bial? Justamente no momento que o Recife pode faturar em divulgação de imagem para todo o mundo - algo que é considerado um dos maiores "legados" da Copa - o gestor público "esquece" sua função pública e resolve jogar para a plateia????

Vocês sabem quanto custaria anunciar a capital pernambucana e/ou o estado de Pernambuco nas mais diversas mídias de mais de 200 países?????? Não?! Nem eu. Mas não custaria R$ 20 milhões (ou US$ 8 milhões, na cotação de hoje?!). Com esse dinheiro mal dá pra anunciar em 2 ou 3 países; sendo boazinha, vou colocar em 5 países da Europa (numa campanha bem camarada, viu?!)

Os gestores de turismo, os empresários de turismo e o pessoal que trabalha nas áreas relacionadas de alguma forma a esse setor econômico vivem reclamando que o Recife é um lugar onde se destaca o Turismo de Negócios, que o turismo de lazer tem pequeno percentual no faturamento e que poderia se fazer mais para atrair esses visitantes para o estado, para a capital pernambucana. Outra reclamação, é que o turista estrangeiro vem pra cá e se enfurna em Porto de Galinhas durante uma pequena temporada e vai embora sem nem passar na frente do Marco Zero ou do Mercado de São José.

Está disponível para quem quiser pesquisar em fontes sérias que os maiores gastos com o evento não são nos estádios, nem com essas centrais de divulgação/atração de torcedores/turistas, mas sim com obras de infraestrutura importantes para as cidades-sedes e também para o seu entorno. No Brasil, como era de se esperar, muitas delas vão atrasar, mas ficarão prontas e trarão benefícios para a população no pós-copa. Vamos questionar as licitações? Sim. Vamos questionar os atrasos? Sim. Vamos questionar a falta de planejamento (em alguns casos)? Sim. Mas as obras vão ficar prontas e vão beneficiar as pessoas.

Minha crítica se concentra nos estádios e numa construção comumente mal-planejada, que não pensa nas pessoas que moram nas áreas circunvizinhas, nos valores das desapropriações, as falta de assistência às pessoas (algo que também tem ocorrido bem pertinho, na Via Mangue) e todas as questões políticas envolvidas na hora de assinar contratos que favorecem em 99% a iniciativa privada (leia-se, construtoras, neste caso) e delegam ao segundo plano o povo. No caso de Pernambuco, havia outras opções além da construção da tal Arena. Mas foi opção do governador "oferecer" um estádio novo, com acesso "livre", num contrato que prevê que se ele não for bancado pelos meios normais (a empresa administra e atrai jogos e eventos para gerir seu negócio), o Governo do Estado vai dar uma "mãozinha" de repasses de dinheiro público para a tal construtora não ter prejuízo (seja obrigando os times que já têm estádios a jogarem onde o vento faz a curva, ou por outros meios que não sou capaz de detalhar, mas que a gente sabe que a vontade política sempre acha um jeitinho).

O próprio secretário de Turismo da Prefeitura atualmente tem dado entrevistas criticando a atração de visitantes estrangeiros para o Brasil, jogando toda a responsabilidade na Embratur.

Pois, senhor secretário, justamente um evento que tem o potencial de divulgação mundial do país-sede, das cidades-sedes e que é reconhecidamente um ímã de turistas estrangeiros e nacionais nos vários anos pós-evento, não terá o apoio da Prefeitura do Recife para a sua divulgação????? Quando o Recife poderia anunciar em mais de 200 países o seu grande potencial turístico. Um potencial que não se restringe ao "sol e mar", mas que é especialmente histórico e cultural (segmento pelo qual os estrangeiros, especialmente os europeus e os asiáticos, são sedentos). É a hora de capitalizar e não de recuar! É tão óbvio!!! É preciso desenhar???

Sabe-se que assim como os cruzeiros marítimos, um evento como a Copa do Mundo serve para dar uma degustação dos destinos turísticos para quem vai ao evento. E que normalmente essas pessoas costumam voltar, acompanhadas de mais gente, para viagens mais longas e com custo maior. Por que, em vez de cancelar o evento da tal Fifafun, não investir e aproveitar que as televisões, rádios, jornais e a mídia de internet de todo o mundo vão transmitir daqui vários jogos e deixar mostrar um Recife/RMR atrativo para quem quiser conhecer-nos. Os atuais gestores nunca ouviram falar de Barcelona, não?!

Enquanto a falta de visão da gestão municipal fará o Recife aparecer menos durante a transmissão dos jogos, em vez de levar os turistas a curtirem a cidade, a planejar passeios por áreas além de Porto de Galinhas (para os estrangeiros e para os brasileiros), distribuir e divulgar possibilidades de roteiros numa central com uma degustação do melhor que Pernambuco tem "do cais ao sertão" (como costuma alardear a publicidade do governo) e deixá-los com ânsia de retornar o mais breve possível, posso ter certeza que cidades como Fortaleza e Natal estarão aparecendo justamente com o que têm: o sol e o mar. E o Recife, que tem além disso tanta história pra contar, ficará a ver os navios passarem, levando os visitantes e o faturamento para os vizinhos.

Se há contra o que protestar (e há), vamos protestar nos momentos e fóruns adequados. Não é abdicando de uma divulgação mundial, de receber satisfatoriamente todos os que vierem e deixar de capitalizar (e muito!) com um evento que está posto e vai acontecer (porque ao contrário de outras capitais que não têm seus estádios prontos, o Recife ainda pode receber mais jogos caso haja algum problema maior) que a capital pernambucana vai se beneficiar.

Eu não deveria, porque já esperava que acontecesse, mas ainda me espanta a falta de visão política e de futuro desta gestão. Deixar de capitalizar a Copa do Mundo não vai apagar o contrato equivocado do Governo do Estado com os gestores da Arena Pernambuco. Muito menos desfazer o sofrimento dos que foram deslocados para a construção de tantas obras. E não me tomem por defensora da Fifa! Sou defensora da boa política, da gestão responsável. Mas não consigo me abster de refletir sobre a falta de visão. Às vésperas do evento, é hora de atrair e não de repelir.

Teremos os feriados da Copa, dos jogos (pra facilitar a tal da mobilidade do evento) e não teremos a festa da Copa - que divulga a cidade-sede com imagens ao vivo e gravadas para mais de 200 países?!? Ficaremos só com as imagens do estádio e provavelmente as TVs do mundo todo mandando as pessoas irem para o Rio de Janeiro?! É difícil. São tempos difíceis. Jogar pra plateia e pra pesquisas de opinião é mais fácil do que ter projeto e posição. Bem mais fácil do que realmente gerir uma cidade do tamanho e da complexidade do Recife.

sábado, 28 de setembro de 2013

A visão de mundo de quem não tem visão



Desde ontem; aliás, desde antes, algo me chama atenção, mais do que a demolição do Edf. Caiçara, em Boa Viagem.

Sim. É possível algo mais surpreendente e também mais assustador do que a destruição de uma cidade.

O quê? A impossibilidade de mudança. A dificuldade de vislumbrar um cenário diferente do que está posto.

Desde ontem, quando a derrubada do prédio virou o assunto mais comentado das redes sociais e a imagem da construtora Rio Ave foi jogada na lama (como costuma acontecer rapidamente com os assuntos neste terreno virtual), chama a minha atenção a reação da construtora e as respostas que tem dado quando questionada sobre o crime contra o patrimônio arquitetônico do Recife.

A suspensão, mesmo que momentânea do processo de tombamento do prédio (se é que aconteceu isso mesmo), fez os donos da empresa ordenarem a derrubada o mais rapidamente possível; achando que assim eliminariam o obstáculo que os impede de erguer mais um arranha-céu à beira-mar.

Talvez tenham eles pensado: "- Vai que ninguém nota?! Quando perceberem, já vamos estar construindo o nosso predão!" \o/

É uma lógica recorrente, vista diariamente por estas bandas tropicais do litoral pernambucano.

Por que pensar num projeto diferente? Por que pensar em algo que conservasse a história da cidade e ainda deixasse pra posteridade também o nome da construtora?

Veja que não estou sendo altruísta no meu pensamento... seria possível eles serem capitalistas-selvagens nisso também.

...

Ideia rápida, que tive em 5 segundos: compravam o prédio, criavam um projeto legal, com um mega-edifício e conservando o Caiçara (que poderia ser transformado em Centro Cultural, como uma Casa de Cultura Laura Alvim (RJ)... quem sabe um Centro de Cultura Ave do Mar (?!) - que óbvio que eles não administrariam (poderiam doar à prefeitura em troca de redução de impostos ad infinitum) - e ainda ajudaria a manter o nome da empresa na mais elevada estima dos recifenses (que estariam pagando a obra com renúncia fiscal do município) e registrariam o nome do dono ou da marca também para a posteridade. No futuro, a tal construtora ainda poderia dizer que iniciou uma nova forma de atuar no Recife. Vejam que estratégia de divulgação perdida, minha gente!!!

A mesma sugestão vale para os empreendedores que pretendem fazer do Cais José Estelita uma mini Dubai, uma proto-Miami! Pra quê perder tempo transformando o lugar numa Amsterdã Nordestina? Numa Copenhagen Tropical??? Trabalho demais, né?! "Bora cimentar e espelhar tudo, que construir Dubai é mais rápido!!!".

Não pensam no futuro e também não pensam no lucro. Na minha modesta opinião de quem não sabe bater um prego numa parede, seria mais rentável vender a ideia de morar numa Copenhagen Recifense do que num deserto reconstruído. Mas acho que essas mega empresas talvez não tenham grana pra bancar uma pesquisa de imagem e mercado, né?! Muito alto o custo de pensar nisso... tsc, tsc, tsc...

...

Então, me perdendo e agora voltando, é engraçado ver que na gestão da crise que os caras mesmos provocaram na imagem da construtora não tem uma solução, só um reforço do problema. "A gente tinha a autorização e a gente derrubou! Uai?!".

É uma lógica que está no Recife, no modo de desenvolvimento pensado por quem tem grana por aqui e também por quem administra a cidade. Que cada vez é menos pública e mais privada (no sentido de particular e também no de esgoto!).

Foi com essa mesma lógica de "- Eureka! Temos uma autorização!", que derrubaram as palmeiras imperiais em frente ao Parque 13 de Maio; e com essa mesma lógica também cortaram as árvores centenárias do bairro do Espinheiro recentemente (o responsável pela obra me dizia, indignado com os protestos dos moradores: "- Mas a gente vai plantar outras!!!"). E é com esse mesmo pensamento que veremos sumir as casas centenárias da Av. João de Barros. (citando poucos exemplos da minha memória escassa).

É desse pensamento que vem a desesperança. Não há perspectiva de mudança. Ao menor cochilo da sociedade, a cidade será derrubada, arrancada e reconstruída aos moldes do que significa desenvolvimento para estas pessoas. Não importa se é o desejo da maioria, se no futuro só haverá carros engarrafados nas ruas, se o mar vai avançar por cima do calçadão e dos prédios, se a temperatura chegará aos 40 graus à sombra. Talvez seja esta a ideia mesmo: transformar o Recife num deserto e aí sim poder construir Dubai aqui! Esta é a visão de futuro desses que se dizem "empreendedores".

E o povo está só. As construtoras financiam as campanhas dos políticos, que quando ganham beneficiam as construtoras. Ninguém quer saber de discutir a reforma política. Muito menos o financiamento público de campanhas. Continuaremos sós; é o que me parece por enquanto.

* Foto do site do Diario de Pernambuco, feita por Bruna Monteiro/DP/D.A Press

* Não sei, nem fui pesquisar, se a construtora em questão fez doação para alguma campanha partidária. Este é apenas um pensamento recorrente meu de que o sistema partidário-eleitoral brasileiro precisa de mudanças, de regras mais rígidas que impeçam uma troca de favores, que não é boa para a população, nem para a democracia.

* Neste caso, em particular, penso que o senso-comum foi: "Mais um prédio, né?!"; "A gente 'planta' outro depois!". E assim seguimos sem rumo.

sábado, 7 de setembro de 2013

A cidade que se apaga

Andar pelo Recife nos últimos tempos dá vontade de chorar. Passei esta semana na Av. João de Barros, no Espinheiro, e constatei mais uma agressão aos registros arquitetônicos da cidade. Vão demolir as casas centenárias próximas à igrejinha para construir mais uma torre de concreto.

Quem quiser ver as casas que já tiveram os portões e as grades de ferro retorcido, formando belos desenhos, já não verá as residências (agora cobertas por um alto tapume de madeira, com a marca de uma construtora).

Mais do que a necessidade de sair tombando tudo o que é casa e bairro, falta aos moradores, ao poder público e aos empresários daqui o respeito aos registros que fazem o Recife ser o que é (ou já foi um dia). Falta criatividade para atuar no espaço urbano sem simplesmente destruir o passado, mas sim construir com o passado.

O Recife nunca teria um Bairro Gótico. Ele já teria sido demolido para a construção de altos edifícios de apartamento e comerciais (quem sabe bem espelhados!); sem criatividade alguma para fazer o novo se adaptar ao antigo, ou respeitar a passagem do tempo na cidade.

Ver as casas da João de Barros com tapumes e imaginá-las transformadas numa grande torre de minúsculos apartamentos, vendidos a preço de ouro, partiu meu coração.

Cada vez mais o Recife é uma cidade sem memória, sem identidade. Uma cidade que se apaga como se fosse desenhada com lápis grafite, nas pranchetas de investidores que observam de longe, mas não andam por suas ruas.

Restarão uma casa e a igreja espremidas, numa metrópole que não sabe como crescer e respeitar sua memória e seus moradores. Restarão o engarrafamento diário, o som das buzinas e a grosseria dos motoristas - que me fizeram ficar vários minutos observando o que já não é a Av. João de Barros; em frente às casas que podem já não estar de pé neste sábado chuvoso.

Restarão as fotos de família.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

E assim se passaram 22 dias (sobre viagens, encontros e autoconhecimento)

Voltei, Recife! A viagem acabou, as férias ainda não. Viva!!! Mas o diário de viagem acaba hoje, com os agradecimentos finais.  Foram quatro cidades em 22 dias (não foi uma maratona; achei um tempo bom pra fazer as coisas do roteiro turístico e tentar um entendimento melhor dos lugares para além dos monumentos, praças e museus). Em alguns lugares eu poderia/gostaria (de) ter ficado mais tempo (caso de Roma  e Madri), mas acho que planejei bem a viagem e fiz tudo o que eu queria e coisas que surgiram sem eu planejar. Amei!

Nesse percurso encontrei muita gente (claro!) e algumas destas pessoas foram importantes para o que se tornou a viagem. Então vou fazer um agradecimento em ordem cronológica desse povo importante, desconhecido, que talvez eu nunca mais encontre de novo.

1. Obrigada às freiras do hostal-convento que eu fiquei em Roma, especialmente Elizabeth (uma mexicana) e Verônica. Sempre atenciosas e queridas, empolgadas com as minhas programações diárias. Gostaram de bolo de rolo e ficaram ansiosas pra saber o que eu iria achar da Sagrada Família, em Barcelona, que elas também não conheciam.

2. Às brasileiras Annaizi e Mariana, que me deram a dica sobre como chegar à praia e aos queridos que foram à praia comigo e que conheci no trem e no ônibus a caminho de Ostia: Zuleika (geógrafa brasileira estudando na Alemanha), Anna e o marido (da Moldávia, mas também geógrafos e morando na Alemanha) e os marroquinhos Hamud e Yassin (que me deram dicas sobre a visita à Cinecittà).

3. A Jéssica, uma americana da Califórnia que tirou minha foto em frente à Sagrada Família e com quem conversei bastante logo após a visita, e a Ainoa, querida demais que me ajudou a chegar em casa depois do jogo do Barcelona! Obrigada, Ainoa!!!

4. Juliana Colares e Helenira! Um beijo e obrigada pela companhia na praia de Barceloneta! Fomos finas e fofas numa segunda-feira ensolarada!

5. Cristina e Rocio, minhas amiguinhas espanholas na visita à Casa-Museu de Lorca, em Granada. A visita foi mais encantada com a presença de vocês! Espero que nos vejamos de novo.

6. Mariela e o marido, que acho que se chama Pedro (perdão! Pedro, fiquei na dúvida agora). As dicas de vocês em Granada foram certeiras! Vi uma das melhores peças da minha vida graças a vocês! Espero que a continuação da sua viagem esteja sendo maravilhosa!

7. A Anne, recepcionista do hotel em Madri, que me ouviu falar feito uma matraca depois de uma viagem cansativa. E a João, pernambucano, estudante intercambista numa universidade espanhola e companheiro de conexão no aeroporto de Lisboa, que me ajudou a entender muito da crise econômica grave que a Espanha e a Europa inteira atravessam. Obrigada!

xxxxx - uma pausa - xxxxx

Lembrei agora que tirei uma foto com um chinês no metrô de Barcelona (?!). Não vou agradecer a ele.... eheheheheheh... é só porque lembrei disso agora. Dois chineses e um árabe conversando no metrô de Barcelona. Dois não falavam o "R", um não falava o "L", mas eles se entendiam.  De repente entra um homem tocando violão no metrô, os amigos pedem pra eu tirar uma foto deles; eu tiro. O chinês, animado, pede pra tirar uma foto comigo. Fiquei sem graça de dizer não. Tirei uma foto com ele. :-S E logo depois pensei: "Meu deus! Eu tirei uma foto com um homem que eu nunca vi no metrô de Barcelona! Sabe-se lá onde vai parar esta foto!" (mas já era, né?!). Então, se aparecer uma foto na internet minha com um chinês num vagão de metrô, com a legenda "Peguei a gordinha!" (escrita em chinês, claro!), ignorem!!! kkkkkkkkkkk... eu nunca vi esse chinês mais magro na minha vida!

xxxxx - fim da pausa - xxxxx

Voltando aos agradecimentos: obrigada a todos que me deram dicas, comentaram por aqui, foram minha companhia de viagem também.

E um agradecimento especial a Guadalupe, uma senhora espanhola animada e falante de Cárceres, que conheci no café da manhã do meu último dia em Madri (pouco antes de ir pro aeroporto). Guadalupe estava a caminho de um retiro com monges num monastério perto de Madri (ela faz isso de vez em quando, pra 'acalmar' o espírito, ficar em silêncio e em paz por um tempo).

Só ela falou, praticamente, e eu apenas ouvi. Parecia que ela tinha chegado ali só pra eu ouvir, então eu ouvi:

"Desculpa estar falando tanto, viu?! É que eu sou meio elétrica e já acordo desse jeito. (risos) Meu filho diz que quando eu chego no monastério os monges gritam: - Fechem as portas! Chegou Guadalupe! (mais risos). Minhas irmãs dizem que eu falo demais, que não sabem como eu consigo ser tão animada. Mas sabe o que eu penso: as pessoas saem de casa todos os dias e só olham pra frente ou pra baixo, sem ver as novidades do mundo. E eu acho que a gente pode ter uma vida mais feliz quando a gente olha pros lados, conversa com as pessoas. A vida é tão mais simples do que a gente pensa. Quando eu vou pro monastério fico a maior parte do tempo em silêncio - porque a gente tem que viver na clausura, igual os monges, e pra mim é muito difícil. Mas ter aquela vida simples, sem sinal de celular, sem computador, uma cama simples, um banheiro, um lugar em paz... às vezes é tudo o que se precisa".

É isso. Guadalupe falou, eu contive as lágrimas; tinha que sair correndo pro aeroporto e instintivamente abracei ela pra me despedir. E mesmo sem me conhecer, Guadalupe me abraçou de volta e a minha viagem aqui pro Brasil foi mais em paz e mais tranquila por causa destas palavras e deste abraço. Obrigada Guadalupe! Que o seu retiro esteja sendo maravilhoso e de muita paz.

E aí quando eu acordei ontem, arrumando a casa, abri um livro que estava fora do lugar e dentro tinha um papel com um texto de Santo Agostinho e é com ele que este diário de viagem terminará:

"Não vê que somos viajantes?

E tu me perguntas:
Que é viajar?

Eu respondo com uma palavra: é avançar!

Experimentais isto em ti.

Que nunca te satisfaças com aquilo que és
Para que sejas um dia aquilo que ainda não és.

Avança sempre! Não fiques parado no caminho."

(Santo Agostinho)


* Diário de uma viagem / agosto-2013 / publicado no facebook (29/08/2013)