sábado, 15 de fevereiro de 2014

Jogando pra plateia...

Um governo que não tem projeto, simplesmente joga para a plateia. Acabo de ler na coluna de Jorge Cavalcanti que a Prefeitura do Recife decidiu cancelar a central de transmissão da Copa do Mundo no Recife Antigo, teoricamente por considerar o custo de R$ 20 milhões elevado para a montagem e manutenção do espaço durante todo o evento. Seria um "segundo carnaval", é o que dizem. Tenho minhas críticas quanto à condução do momento preparatório da Copa no Brasil, mas elas não passam necessariamente pelo gasto público no evento.

Vale destacar que praticamente TODAS as obras que estão sendo realizadas no Recife e na Região Metropolitana em função da Copa do Mundo estão sendo bancadas com recursos do Governo Federal. E que o governo do estado e a prefeitura do Recife vão faturar em cima disso quando tudo estiver pronto. Porque apesar dos atrasos, acreditem, vai tudo ficar pronto.

Aí, leio que a Prefeitura do Recife decidiu "romper" com a Fifa. A Prefeitura do Recife decidiu "romper" com a Fifa?????? Como assim, Bial? Justamente no momento que o Recife pode faturar em divulgação de imagem para todo o mundo - algo que é considerado um dos maiores "legados" da Copa - o gestor público "esquece" sua função pública e resolve jogar para a plateia????

Vocês sabem quanto custaria anunciar a capital pernambucana e/ou o estado de Pernambuco nas mais diversas mídias de mais de 200 países?????? Não?! Nem eu. Mas não custaria R$ 20 milhões (ou US$ 8 milhões, na cotação de hoje?!). Com esse dinheiro mal dá pra anunciar em 2 ou 3 países; sendo boazinha, vou colocar em 5 países da Europa (numa campanha bem camarada, viu?!)

Os gestores de turismo, os empresários de turismo e o pessoal que trabalha nas áreas relacionadas de alguma forma a esse setor econômico vivem reclamando que o Recife é um lugar onde se destaca o Turismo de Negócios, que o turismo de lazer tem pequeno percentual no faturamento e que poderia se fazer mais para atrair esses visitantes para o estado, para a capital pernambucana. Outra reclamação, é que o turista estrangeiro vem pra cá e se enfurna em Porto de Galinhas durante uma pequena temporada e vai embora sem nem passar na frente do Marco Zero ou do Mercado de São José.

Está disponível para quem quiser pesquisar em fontes sérias que os maiores gastos com o evento não são nos estádios, nem com essas centrais de divulgação/atração de torcedores/turistas, mas sim com obras de infraestrutura importantes para as cidades-sedes e também para o seu entorno. No Brasil, como era de se esperar, muitas delas vão atrasar, mas ficarão prontas e trarão benefícios para a população no pós-copa. Vamos questionar as licitações? Sim. Vamos questionar os atrasos? Sim. Vamos questionar a falta de planejamento (em alguns casos)? Sim. Mas as obras vão ficar prontas e vão beneficiar as pessoas.

Minha crítica se concentra nos estádios e numa construção comumente mal-planejada, que não pensa nas pessoas que moram nas áreas circunvizinhas, nos valores das desapropriações, as falta de assistência às pessoas (algo que também tem ocorrido bem pertinho, na Via Mangue) e todas as questões políticas envolvidas na hora de assinar contratos que favorecem em 99% a iniciativa privada (leia-se, construtoras, neste caso) e delegam ao segundo plano o povo. No caso de Pernambuco, havia outras opções além da construção da tal Arena. Mas foi opção do governador "oferecer" um estádio novo, com acesso "livre", num contrato que prevê que se ele não for bancado pelos meios normais (a empresa administra e atrai jogos e eventos para gerir seu negócio), o Governo do Estado vai dar uma "mãozinha" de repasses de dinheiro público para a tal construtora não ter prejuízo (seja obrigando os times que já têm estádios a jogarem onde o vento faz a curva, ou por outros meios que não sou capaz de detalhar, mas que a gente sabe que a vontade política sempre acha um jeitinho).

O próprio secretário de Turismo da Prefeitura atualmente tem dado entrevistas criticando a atração de visitantes estrangeiros para o Brasil, jogando toda a responsabilidade na Embratur.

Pois, senhor secretário, justamente um evento que tem o potencial de divulgação mundial do país-sede, das cidades-sedes e que é reconhecidamente um ímã de turistas estrangeiros e nacionais nos vários anos pós-evento, não terá o apoio da Prefeitura do Recife para a sua divulgação????? Quando o Recife poderia anunciar em mais de 200 países o seu grande potencial turístico. Um potencial que não se restringe ao "sol e mar", mas que é especialmente histórico e cultural (segmento pelo qual os estrangeiros, especialmente os europeus e os asiáticos, são sedentos). É a hora de capitalizar e não de recuar! É tão óbvio!!! É preciso desenhar???

Sabe-se que assim como os cruzeiros marítimos, um evento como a Copa do Mundo serve para dar uma degustação dos destinos turísticos para quem vai ao evento. E que normalmente essas pessoas costumam voltar, acompanhadas de mais gente, para viagens mais longas e com custo maior. Por que, em vez de cancelar o evento da tal Fifafun, não investir e aproveitar que as televisões, rádios, jornais e a mídia de internet de todo o mundo vão transmitir daqui vários jogos e deixar mostrar um Recife/RMR atrativo para quem quiser conhecer-nos. Os atuais gestores nunca ouviram falar de Barcelona, não?!

Enquanto a falta de visão da gestão municipal fará o Recife aparecer menos durante a transmissão dos jogos, em vez de levar os turistas a curtirem a cidade, a planejar passeios por áreas além de Porto de Galinhas (para os estrangeiros e para os brasileiros), distribuir e divulgar possibilidades de roteiros numa central com uma degustação do melhor que Pernambuco tem "do cais ao sertão" (como costuma alardear a publicidade do governo) e deixá-los com ânsia de retornar o mais breve possível, posso ter certeza que cidades como Fortaleza e Natal estarão aparecendo justamente com o que têm: o sol e o mar. E o Recife, que tem além disso tanta história pra contar, ficará a ver os navios passarem, levando os visitantes e o faturamento para os vizinhos.

Se há contra o que protestar (e há), vamos protestar nos momentos e fóruns adequados. Não é abdicando de uma divulgação mundial, de receber satisfatoriamente todos os que vierem e deixar de capitalizar (e muito!) com um evento que está posto e vai acontecer (porque ao contrário de outras capitais que não têm seus estádios prontos, o Recife ainda pode receber mais jogos caso haja algum problema maior) que a capital pernambucana vai se beneficiar.

Eu não deveria, porque já esperava que acontecesse, mas ainda me espanta a falta de visão política e de futuro desta gestão. Deixar de capitalizar a Copa do Mundo não vai apagar o contrato equivocado do Governo do Estado com os gestores da Arena Pernambuco. Muito menos desfazer o sofrimento dos que foram deslocados para a construção de tantas obras. E não me tomem por defensora da Fifa! Sou defensora da boa política, da gestão responsável. Mas não consigo me abster de refletir sobre a falta de visão. Às vésperas do evento, é hora de atrair e não de repelir.

Teremos os feriados da Copa, dos jogos (pra facilitar a tal da mobilidade do evento) e não teremos a festa da Copa - que divulga a cidade-sede com imagens ao vivo e gravadas para mais de 200 países?!? Ficaremos só com as imagens do estádio e provavelmente as TVs do mundo todo mandando as pessoas irem para o Rio de Janeiro?! É difícil. São tempos difíceis. Jogar pra plateia e pra pesquisas de opinião é mais fácil do que ter projeto e posição. Bem mais fácil do que realmente gerir uma cidade do tamanho e da complexidade do Recife.

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