sexta-feira, 22 de maio de 2015

Das coisas que observo por aqui (2)

1. Gostar de dirigir não significa que você gosta de carro. Na minha visão, italianos gostam de dirigir, mas não têm muito apreço pelas máquinas. A média do povo dirige muito mal e os carros são sempre arranhados, batidos, sem retrovisor às vezes, ou com o párachoque meio caído. Já andei em cidades de Norte a Sul e é sempre a mesma coisa. Os carros ficam nas calçadas, as balizas às vezes são manobras surreais de acompanhar e muitos veículos têm a placa torta ou simplesmente presa por uma gambiarra.

2. Outra coisa que é fácil de reparar é que aqui as regras de trânsito foram feitas para serem desrespeitadas. Olhe bem antes de atravessar uma rua e não confie num sinal fechado e numa faixa de pedestres. Na Sicília eu vi carros e motos na contramão e a faixa de pedestres às vezes eu achei que era um alvo para um jogo de boliche. Giovanni, meu amigo espanhol, diz que a morte típica de um turista desavisado na Itália deve ser atropelado por uma vespa ou por uma moto. Não coloque o pé na rua antes de os carros pararem, pois você corre o risco de perder uma perna.

3. Os ônibus são novos, no nível das calçadas, silenciosos e ninguém reclama de um freio brusco, de uma curva maluca ou de uma arrancada de repente. Os motoristas às vezes dirigem como os motoristas de ônibus no Brasil, mas respeitam a velocidade permitida sempre. Não tem cobrador e sempre entram fiscais para verificarem os bilhetes. Estar sem o bilhete ou não validá-lo rende multa, aplicada na hora. Tanto nos ônibus, quanto nos trens.

4. Andar de trem é um barato! Comecei tímida, aprendendo como me portar no trem, observando as pessoas, os caminhos, as paradas. Um pouco tensa com medo de não chegar na hora. Perdi o trem algumas vezes. Mas agora estou realmente encantada com esse meio de transporte. Já tinha viajado de trem outras vezes, mas nestes meses foram muitas e muitas viagens, com mala e sem mala, e já posso dizer que sou uma "expert"! :-D

6. Aprendi com Tati, uma amiga do Rio, que nos trens regionais (estes sem lugar marcado) não se deve viajar nem no primeiro, nem no último vagão, pois são os escolhidos por quem não quer pagar a passagem. Às vezes tem confusão, os fiscais são mais abusados nestas carroças e se você pode ir mais no meio é melhor.

7. Outra coisa é que o trem pode até atrasar, mas você não. Perdi o horário umas duas vezes, em trens regionais. Deve-se prestar atenção ao tipo de viagem que você comprou. Se pagou mais barato por um trem regional, não pode viajar no trem rápido. Deve esperar outro do mesmo tipo. Senão paga multa. É bem educativa essa história da multa. Já vi algumas pessoas sendo multadas, ou porque não prestaram atenção, ou porque deram uma de "João sem braço" mesmo.

8. Mala pesada e viagem de trem não podem estar na mesma frase. As estações têm escada, nem sempre rolantes, e nem sempre, claro, tem elevador. Você carrega sua própria mala e deve colocá-la nos maleiros. Em italiano se diz "fazer academia" (fare la palestra), mas também se diz "fazer o músculo" (fare il musculo). Vendo o tamanho da minha mala em Catânia, o maquinista do trem disse bem alto e tirando onda: "Mà, tu fai il musculo con questo!!!". "- Certo!" - não podia dar outra resposta além desta. E rimos! Então, é bom lembrar que tudo o que comprar terá que carregar você mesmo. É uma forma bem prática de economizar. Eu não comprei nada, só ímã de geladeira, e acho que da próxima vez viajo só com uma muda de roupas. Porque "fazer os músculos" numa viagem dá muito trabalho!:-P

9. Fui para a Sicília de trem, pelo litoral, e posso dizer que a viagem é longa; sim, é cansativa!; mas uma vez na vida ver a paisagem mudar e viajar quase dentro do mar pela ferrovia litorânea é algo encantador. Quando chega no fim da Calábria, é hora do trem entrar num navio e ser conduzido pelo mar para a Sicília. Você pode descer do vagão e sair para olhar a paisagem lá de cima. É lindo! É emocionante! Mas não esqueça de que carroça desceu para voltar para o mesmo posto depois de uns 20 minutos. O trem partirá, com ou sem você, é sempre bom lembrar.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

A língua italiana e a tecla SAP

No prédio em que morei em Florença, eu tinha dois pequenos vizinhos. Devem ter uns cinco ou seis anos. Pela manhã estavam sempre atrasados, com sono, com fome, com preguiça. No fim do dia, sempre animados, falantes e rindo. Todo dia de manhã saíam de casa choramingando. Todo fim de dia voltavam pra casa se divertindo.

Acompanhar os italianinhos, mesmo que apenas nas conversas de corredor, era observar como aprendem a língua e já falam ritmados desde pequenos e ter a certeza de que a cada palavra dita na rua por mim, os italianos terão a certeza de que sou estrangeira. Porque mais do que aprender a falar italiano, você deve aprender a "cantar" italiano. E não acredito que exista uma técnica para isso.

Talvez depois de muitos anos vivendo aqui uma pessoa consiga um ritmo semelhante. Será bravissima! :-)

Por mais que tenha perdido o receio de falar e hoje em dia já me comunique sem medo de colocar uma vez ou outra uma palavra em português e outra em espanhol no jogo de advinhação que às vezes se transforma conversar numa língua que não é a sua, tenho certeza que não tenho o modo de cantar italiano. E tenho problemas com a conjugação dos verbos (muitos tempos, muitas formas, da mesma forma que o português e o francês).

Essa certeza é reforçada quando falo com alguém num hotel, ou numa loja, e a resposta vem em inglês e espanhol. Sinal de que a pessoa percebeu de cara que o italiano não é a minha língua mais original. :-D Mas o povo daqui é gentil e sempre diz que você fala muito bem (talvez gostassem de completar: para uma estrangeira! eheheheheheheh...).

Além de falar gramaticalmente certo, o meu desejo é um dia utilizar todas as pequenas expressões que fazem o ritmo da conversa. "Mà dai!", "Beh!", "Figurate!", "Magari!" e Valeriu, meu amigo romeno, reparou que em Roma eles também falam muito "Má per carità!".

Aqui na Sicília eu descobri que uma nova língua e às vezes me pego vendo apenas as bocas se mexerem e delas saírem vários e vários sons sem nenhuma explicação. kkkkkkkkk... Os italianos do Sul falam mais rápido e têm muitas expressões idiomáticas e um jeito de falar que penso que deve ser um dialeto específico. Eu que achava que estava com a compreensão ótima e a audição afiada, agora às vezes penso que devo retornar à casa 1 do jogo do aprendizado de uma nova língua.

Outro "problema" que eu estou tendo é que depois desses meses minha tecla SAP está gravemente avariada e não consigo me lembrar de muitas palavras em inglês e em espanhol; línguas que eu falava razoavelmente sem problemas. Agora tenho uma salada de frutas de idiomas no meu cérebro e espero que eles se reordenem quando eu voltar para o Brasil, porque tenho me sentido muitas vezes num jogo de caça-palavras estrangeiras.

O português, claro e obviamente, essa língua linda e maravilhosa, continua sempre comigo.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Das coisas que observo por aqui

1. Se você não tem nenhuma restrição alimentar. Não é vegetariano, não tem intolerância a glúten ou a lactose, não tem alguma alergia, não pergunte do que é feita a comida. Prove, depois pergunte. Talvez você deixe de comer o “manjar dos deuses” por conta de uma curiosidade antecipada. :-) No meu caso, tenho restrição a carne de cavalo e outros animais estranhos (incluindo felinos, insetos e répteis, entre outros). No mais, não sendo nenhum desses itens no cardápio, eu evito perguntar do que é feito. Em Parma eu perguntei ao dono de uma Paninoteca o que era "Salame di Felino" e ele se acabou de rir. eheheheheheheh... "Não é de gato, não!!! É de uma cidade próxima daqui. O salame é feito lá!". Neste caso, achei melhor perguntar - mesmo sabendo que era pouco provável o que eu pensei quando li a placa anunciando a iguaria. kkkkkkkk...

2. Evite comer num lugar cheio de turistas. Jamais, em hipótese alguma, pague 6 euros por um sorvete, muito menos numa sorveteria que coloca os sorvetes em formato de montanha gelada – para atrair os desejos por açúcar dos visitantes incautos. Nas melhores sorveterias o “gelato” com dois sabores custa 2 ou 2,50 euros o copinho pequeno;  e o sorvete não fica numa montanha gelada, mas dentro de potes num frigorífico normal. Os sorvetes de montanha normalmente são caros e não são bons.

3. A pergunta certa não é “Onde é o melhor restaurante?”, muito menos “Qual é o melhor lugar para comer?”. A pergunta “correta” é “Onde você comeria com a sua família?”, ou “Onde os florentinos, milaneses, napolitanos, romanos, sicilianos comem?”. Se alguém te responder isso, sinta-se um privilegiado por encontrar os melhores restaurantes e sorveterias de qualquer lugar! Incluindo a Itália.

4. Antes de subir em qualquer torre, igreja, museu e afins pergunte como é a subida, quantos degraus tem, se é num lugar apertado, se tem janela no meio do caminho, se tem como sair na metade, se tem elevador. Se a subida for ao ar livre (um passeio, por exemplo), pergunte se precisa de sapato especial, se uma pessoa sedentária consegue fazer, se precisa de alguma coisa especial para completar a jornada. Não pague nenhuma entrada ou passeio sem essas questões bem claras! Se você é sedentário, tem problema de joelho, tem problemas cardíacos, é claustrofóbico, é gordo, tem muito frio, tem muito calor... vá por mim, pergunte! Depois que eu subi os 464 degraus do Duomo da Catedral de Santa Maria de Fiore, em Firenze, eu ainda subi outros mais de 300 na Torre do Palazzo Vecchio e sei lá mais quantos em outras muitas igrejas, posso falar por experiência própria: não vale a pena! Escolha uma subida e vá com fé! As outras vistas serão muito semelhantes.

5. Em Florença, para mim, o melhor lugar para ter uma vista da cidade do alto é Fiesole e pra lá você vai de ônibus (n. 7, passa na Piazza San Marco) e quando sai do ônibus já está bem alto. Eheheheh... No Duomo eu achei que ia enfartar e, a cada 5 minutos, que ia morrer sufocada. Os corredores são muito estreitos e pra ver o lado de fora antes de chegar lá no alto tem só umas minúsculas janelas! Em todas elas eu parei, olhei pra fora e mentalizei: “Estou ao ar livre, tem muito espaço, sou um pássaro!” – e isso não é brincadeira, Foi exatamente desse jeito! Quando cheguei lá em cima (tudo bem, a vista é muito bonita!), eu só pensava que ia ter que descer os 464 degraus!!! E no dia seguinte meus joelhos estavam esgotados! Porque se a subida é difícil, a descida é o grande desafio! Enfim, se tem uma escada enorme num edifício qualquer, a possibilidade de eu “dar por visto” agora é grande. \o/