terça-feira, 17 de novembro de 2009

Reproduzo aqui artigo excelente artigo de Zé Celso Martinez Corrêa sobre Lula e Caetano, publicado no Estado de São Paulo.

TROPICÁLIA, SOB O SIGNO DO ESCORPIÃO
José Celso Martinez Corrêa

No mesmo dia em que Caetano fazia sua entrevista de capa, muito bela como sempre, no Caderno 2 do Estadão, o Ministro Ecologista Juca Ferreira publicava uma matéria na Folha na seção Debates. Um texto extraordinariamente bem escrito em torno da cultura, como estratégia, iniciada no 1º Governo de Lula ao nomear corajosa e muito sabiamente Gilberto Gil como Ministro da Cultura e hoje consolidada na gestão atual do Ministro Juca. Hoje temos pela primeira vez na nossa história um corpo concreto de potencialização da cultura brazyleira: o Ministério da Cultura, e isso seu atual Ministro soube muito bem fazer, um CQD em seu texto.

Por outro lado, meu adorado Poeta Caetano, como sempre, me surpreendeu na sua interpretação de Lula como analfabeto, de fala cafajeste, abrindo seu voto para Marina Silva.

Nós temos muitas vezes interpretações até gêmeas, mas acho caetanamente bonito nestes tempos de invenção da democracia brazyleira, que surjam perspectivas opostas, mesmo dentro deste movimento que acredito que pulsa mais forte que nunca no mundo todo, a Tropicália.

Percebi isso ao prefaciar a tradução em português crioulo = brazyleiro do melhor livro, na minha perspectiva, claro, escrito sobre a Tropicália: Brutality Garden, Jardim Brutalidade, de Chris Dunn, professor de literatura Brazyleira, na Tulane University de New Orleans.

Acho, diferentemente de Caetano, que temos em Lula o primeiro presidente antropófago brazyleiro, aliás Lula é nascido em Caetés, nas regiões onde foi devorado por índios analfabetos o Bispo Sardinha que, segundo o poeta maior da Tropicália, Oswald de Andrade, é a gênese da história do Brazil. Não é o quadro de Pedro Américo com a 1ª Missa a imagem fundadora de nossa nação, mas a da devoração que ninguém ainda conseguiu pintar.

Lula começou por surpreender a todos quando, passando por cima das pressões da política cultural da esquerda ressentida, prometeica, nomeou o Antropófago Gilberto Gil para Ministro da Cultura e Celso Amorim, que era macaca de Emilinha Borba, para o Ministério das Relações Exteriores, Marina Silva para o Meio Ambiente e tanta gente que tem conquistado vitórias, avanços para o Brasil, pelo exercício de seu poder-phoder humano, mais que humano.

Phoderes que têm de sambar pra driblar a máquina perversa oligárquica, podre, do Estado brasileiro. Um estado oligárquico de fato, dentro de um Estado Republicano ainda não conquistado para a “res pública”. Tudo dentro de um futebol democrático admirável de cintura. Lula não pára de carnavalizar, de antropofagiar, pro País não parar de sambar, usando as próprias oligarquias.

Lula tem phala e sabedoria carnavalesca nas artérias, tem dado entrevistas maravilhosas, onde inverte, carnavaliza totalmente o senso comum do rebanho. Por exemplo, quando convoca os jornalistas da Folha de S. Paulo a desobedecer seus editores e ouvir, transmitindo ao vivo a phala do povo. A interpretação da editoria é a do jornal e não a da liberdade do jornalista. Aí , quando liberta o jornalista da submissão ao dono do jornal, é acusado de ser contra a liberdade de expressão. Brilha Maquiavel, quando aceita aliança com Judas, como Dionísios que casa-se com a própria responsável por seu assassinato como Minotauro, Ariadne. É realmente um transformador do Tabu em Totem e de uma eloquência amor-humor tão bela quanto a do próprio Caetano.

Essa sabedoria filosófica reflete-se na revolução cultural internacional que Lula criou com Celso Amorim e Gil, para a política internacional. O Brasil inaugurou uma política de solidariedade internacional. Não aceita a lógica da vendetta, da ameaça, da retaliação. Propõe o diálogo com todos os diabos, santos, mortais, tendo certa ojeriza pelos filisteus como ele mesmo diz. Adoro ouvir Lula falar, principalmente em direto com o público como num teatro grego. É um de nossos maiores atores. Mais que alfabetizado na batucada da vida, lula é um intérprete dela: a vida, o que é muito mais importante que o letrismo. Quantos eruditos analfabetos não sabem ler os fenômenos da escrita viva do mundo diante de seus olhos?

Eu abro meu voto para a linha que vem de Getúlio, de Brizola, de Lula: Dilma, apesar de achar que está marcando em não enxergar, nisto se parece com Caetano, a importância do Ministério da Cultura no Governo Lula. Nos 5 dedos da mão em que aponta suas metas, precisa saber mais das coisas, e incluir o binômio Cultura & Educação.

Quanto a Marina Silva, quando eu soube que se diz criacionista, portanto contra a descriminalização do aborto e da pesquisa com células-tronco, pobre de mim, chumbado por um enfarte grave, sonhando com um coração novo, deixei de sequer imaginar votar nela. Fiz até uma cena na Estrela Brasyleira a Vagar – Cacilda!! para uma personagem, de uma atriz jovem contemporânea que quer encarnar Cacilda Becker hoje, defendendo este programa tétrico.

Gosto muito de Dilma, como de Caetano, onde vou além do amar, vou pra Adoração, a Santa adorada dos deuses. Acho a afetividade a categoria política mais importante desta era de mudanças. “Amor Ordem e Progresso.” O amor guilhotinado de nossa bandeira virou um lema Carandiru: Ordem e Progresso, só.

Apreendi no livro de Chris Dunn que os americanos chamam esta categoria de laços homossociais, sem conotação direta com o homoerotismo, e sim com o amor a coisas comuns a todos, como a sagração da natureza, a liberdade e a paixão pelo amor energia, santíssima eletricidade. Sinto que nessas duas pessoas de que gosto muito, Caetano e Dilma, as fichas da importância cultural estratégica, concreta, da Arte e da Cultura, do governo Lula, ainda não caíram.

A própria pessoa de Lula é culta, apesar de não gostar, ainda, de ler. Acho que quando tiver férias da Presidência vai dedicar-se a estudar e apreender mais do que já sabe em muitas línguas. Até hoje ele não pisou no Oficina. Desejo muito ter este maravilhoso ator vendo nossos espetáculos. Lula chega à hierarquia máxima do teatro, a que corresponde ao papa no catolicismo: o palhaço. Tem a extrema sabedoria de saber rir de si mesmo. Lula é um escândalo permanente para a mente moralista do rebanho. Um cultivador da vida, muito sabido, esperto. Não é à toa que Obama o considera o político mais popular do mundo.

Caetano vai de Marina, eu vou de Dilma. Sei que como Lula ela também sente a poesia de Caetano, como todos nós, pois vem tocada pelo valor da criação divina dos brazyleiros. Essa “estasia”, Amor-Humor, na Arte, que resulta em sabedoria de viver do brasileiro: Vida de Artista. Não há melhor coisa que exista!

Lula faz política culta e com arte. Sabe que a cultura de sobrevivência do povo brasileiro não é super, é infra estrutura. Caetano sabe disso, é uma imensa raiz antenada no rizoma da cultura atual brazyleira renascente de novo, dentro de nós todos mestiços brazyleiros. Fico grato a Caetano ter me proporcionado expor assim tudo que eu sinto do que estamos vivendo aqui agora no Brasil, que hoje é um país de poesia de exportação como sonhava Oswald de Andrade, que no Pau Brasil, o livro mais sofisticado, sem igual brazyleiro canta:

“Vício na fala

Pra dizerem milho dizem mio

Pra melhor, dizem mió

Para telha, dizem teia

Para telhado, dizem teiado

E vão fazendo telhado”

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Por mares nunca antes navegados

Viajar tem sempre aquela história de reconhecer ou estranhar coisas... Nunca tinha viajado para a Europa, apenas dentro do Brasil e para os Estados Unidos, mas em todos os lugares sempre há a sensação de afinidade ou de estranhamento.

A comida, o jeito de vestir, de falar, os costumes das pessoas nas ruas, o jeito de andar, se as pessoas são silenciosas ou falantes, simpáticas ou ranzinzas (nem sei se escreve assim esta palavra... eheheheheheheh).

Nesta viagem que fiz, passei rapidamente por Portugal. E por mais que todo mundo fale que os portugueses são mal humorados, me identifiquei bastante com eles. Achei engraçado o jeito explicado e literal de dizer e escrever as coisas, achei divertido eles serem reclamões e vi em cada lugar de Lisboa muita coisa do Brasil.

Foi como reconhecer os mercados, as construções, as ruas, os prestadores de serviços, as vendas, os objetos que encontramos em tantos lugares no Brasil. Em Recife, no Rio de Janeiro, em Salvador. Lisboa parece uma mistura do Rio com Salvador. E vendo aquelas esculturas de caravelas, aqueles aventureiros dos mares, me emocionei imaginando como eles se lançaram ao mar para descobrir novas terras, numa infraestrutura que não consigo imaginar mais precária.

Sou brasileira e tenho todo o pensamento crítico sobre a colonização e sobre tudo que ela trouxe de bom e de ruim para o país. Mas lá, em terras portuguesas, me emocionei muito por ver exatamente de onde viemos. Um pedaço grande, enorme, do que somos hoje vem de Portugal. Vem dos indígenas, vem dos negros, vem dos imigrantes de tantos países, mas vem muuuuuiiiittttooooo de Portugal. E olhe que só passei algumas horas em Lisboa, numa maratona de tentar conhecer o máximo de coisas, no mínimo de tempo.

Espero voltar e ver o restante do país. Acho que as emoções podem se triplicar adentrando as terras portuguesas. Dos lugares que visitei desta vez, trouxe ímãs de geladeira, camisetas, enfeites para a casa. De Portugal, além das bugigangas, eu troxe uma certa emoção e algumas histórias pra contar.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

"Quando a gente tem vontade de chorar, tem que chorar" (do Portal do Luis Nassif)



Por emerson (no blog de Luis Nassif)

"Lula sabe do jogo pesado da imprensa e da oposição e tem sim consciência de seu papel na consolidação de um novo patamar de nossa sociedade. Tenho a impressão que, quando Lula se deita a noite, ele de fato repete para si “estou mudando o país”. Pode ser que seja isso que ele consegue passar em seus discursos e pronuciamentos. Ele acredita que esta fazendo diferença. E parece cada vez mais motivado por isso pelo que tem conseguido.

Me parece que Lula usa de seu prestígio para consolidar sua obra política. Ao invés de confronto, tem deixado a oposição sem discurso e sem bandeira. Não quero dizer que Lula tomou as bandeiras da oposição, mas o que fez foi consolidar suas bandeiras dentro da oposição.

Dizem que Lula tem sorte. Discordo. Sorte é estatística pois quem tem sorte tem também azar.. mas a sorte sistemática não é sorte.

Lula tem competência política, forjada no sindicato e depois na militancia do PT. Aprendeu com os erros e agora exerce a sua experiência política.

Lula é sim macunaímico, no sentido de aprender rápido, adaptar-se bem e sobreviver. Lula é Darwin. E quem não evoluiu, esta prestes a desaparecer.

Lula sabe sim o jogo pesado da oposição e aprendeu com ela como agir. Lula sabia que tinha o tempo a favor de si e que a mídia cairia no descrédito e com ela, a oposição que pautava essa mídia."



É isso... e prestando atenção no discurso dele, a gente vê que ele já fala que a próxima Olimpíada tem que ser na África. Podem falar mal, mas é uma visão diferente do mundo. Não há discussão quanto a isso.

Volver a los 17

domingo, 20 de setembro de 2009

Uma entrevista histórica com Lula e uma análise de Luis Nassif

Mandei este e-mail hoje para vários amigos e conhecidos e estou colocando aqui no blog também.

Oi gente,

Encaminho o texto abaixo (uma análise feita pelo jornalista Luis Nassif), com um link para a entrevista que o Valor Econômico fez com o presidente Lula http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2009/9/17/lula-propoe-uma-consolidacao-das-leis-sociais. Aos que não acompanham os assuntos políticos e econômicos do país, ou aos que acompanham e pensarão logo "Que saco!", explico o por quê de enviar este texto e o link da entrevista: porque já passou da hora de acabarmos com essa visão preconceituosa de que o Brasil tem um semianalfabeto na presidência.

Lúcido, com visão de futuro e ações que vão marcar o período em que governou para a história do Brasil, Lula não brinca quando diz "nunca antes na história desse país", porque realmente "nunca antes na história desse país" muitas coisas aconteceram nestes agora sete anos de Governo Lula.

Algumas discordâncias? Sim. Decepções? também. Poderia ter feito mais? Sim. Diferente? claro. Há críticas a fazer? Muitas. Mas é impossível negar os avanços que tivemos em tantas áreas. Por uma competência maior? Por uma forma de governar diferente? Sim. Mas não nos detenhamos a este tópico. A resposta é: por uma visão de mundo diferente dos que enxergam no mercado e no estado mínimo ainda uma solução para o Brasil e para o mundo. Por uma visão de governo que enxerga o Brasil e os cidadãos e luta para que tenham um pouco do quinhão da riqueza produzida por eles mesmos.

Na função de repórter tenho tido a oportunidade de viajar para alguns lugares do interior de Pernambuco e conversado com pessoas bem diferentes, de várias classes sociais. O que tenho visto por aqui é que no futuro falaremos do período antes de Lula e depois de Lula. Por que? Porque "nunca antes na história desse país" :-) o povo teve tanto acesso aos estudos como agora.

A instalação de escolas técnicas e universidades em lugares tão diversos e distantes da capital está revolucionando as sociedades desses locais e transformando uma realidade sempre marcada pela discriminação e pelo analfabetismo. Ver pessoas cujo único destino era ser agricultor na terra de "sinhôzinho", empregada doméstica ou babá - no máximo, professora primária, ou migrante nordestino no Sudeste - agora cursando a universidade e usando nas suas localidades técnicas modernas de plantio, de atuação social e com perspectivas muito mais amplas de futuro, e enxergar no discurso delas a diferença do que é ter acesso à educação e consciência de seus direitos e deveres, é muito gratificante. Uma oportunidade que talvez não tivesse se seguisse outra profissão.

Antevendo que em 2010 teremos de novo todo o discurso preconceituoso de volta, ou ainda... E que mais uma vez os grandes meios de comunicação vão se unir para "disfarçadamente" defender seus projetos políticos, mascarando com matérias supostamente imparciais a realidade das ruas, acho válido encaminhar este e-mail. Assim como nas últimas eleições, a internet, os blogs e as redes sociais devem fazer a diferença no acesso à informação. Então, se temos que driblar de alguma forma o establishment, que seja desde já.

beijos a todos,

Juliana Cavalcanti (Ju, Hip)


Abaixo, uma análise de Luís Nassif sobre a entrevista e sobre Lula. E aqui, o link para ler a entrevista do presidente ao Valor Econômico: http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2009/9/17/lula-propoe-uma-consolidacao-das-leis-sociais

Uma entrevista histórica com Lula
Do Último Segundo
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/

Coluna Econômica – 17/09/2009

Há tempos, era possível vislumbrar o que seria a crise global do financismo e o que viria depois. No meu livro “Os Cabeças de Planilha” – lançado em 2005, mas com escritos de alguns anos antes – preconizo a volta do nacionalismo, da defesa da produção e do emprego nacional, como um dos elementos centrais da nova política do país. E, nessa linha, a convocação das grandes empresas brasileiras, das estatais, a articulação das pequenas em cima de um pensamento comum.


No seu primeiro mandato, Lula marcou passo, manteve a ortodoxia do Banco Central, avançou pouco em novas políticas. No segundo, pegou no breu, com a massificação de políticas sociais. Com a crise mundial, o ganho de competência na gestão (com PACs, Luz Para Todos etc) e, agora, o pré-sal, consolidou seu pensamento. No jornal O Valor de ontem, concedeu sua mais importante entrevista. Pela primeira vez, ficou claro o que o mundo viu em Lula. Na entrevista, Lula sintetiza de forma singular qual o país que irá legar. Não foi uma lista de obras ou de feitos, mas uma conjunção de princípios econômicos e políticos que entrará para a história.


***


Em relação aos próximos passos, fala de um novo PAC para o período 2011-2015, uma lei consolidando todas as políticas sociais, a medida garantindo a universalização do acesso à Internet.

Mais importante são os conceitos exarados:

* um salto em direção à industrialização com o uso de ferramentas de política industrial. Como, por exemplo, na decisão de aproveitar o pré-sal para construir um novo pólo petroquímico;

* a responsabilidade das grandes multinacionais brasileiras em investir no país olhando o futuro e não o seu caixa. É quando cobra da Vale os investimentos em novas siderúrgicas para o país não se conformar em ser um mero exportador de minérios.

* acabar com essa história de que todo investimento deve se fixar exclusivamente nos custos (o que justificaria importar quase tudo): “quando começamos a discutir com a Petrobras a construção de plataformas, ela dizia “nós economizamos tantos milhões. Eu falava, e os desempregados brasileiros, e os avanços tecnológicos brasileiros?”;

* sobre o papel do Estado, consolidou a ideia de que o Estado não pode ser o gerenciador, o administrador. Tem que ter o papel de indutor e de fiscalizador”.

* O papel das Estatais, passando por cima das conveniências políticas. Mostra que ao comprar a Nossa Caixa, perguntaram se não se incomodaria em fortalecer o candidato José Serra. Mas era importante para alavancar o crédito, especialmente na crise.

* Sobre o fortalecimento do Estado, rebateu a ideia de que basta uma reforma fiscal e arrochar salários do funcionalismo para resolver a questão. Mostrou como o setor público perdeu quadros preciosos por falta de salários. E a importância do reforço em áreas chave, como educação. O importante é analisar os serviços que o Estado presta e procurar aperfeiçoá-los.

* Rebateu a tentativa de alguns setores aliados de criar um “risco Serra”. Mostrou que, entre quem entrar, não haverá loucuras nem com o Banco Central nem com o mercado

Sobre Estadistas – 1

Um dos atributos do estadista não é apenas o de construir o futuro de um país. Por não ser um intelectual, não sofistica o discurso. Mas tem a capacidade de identificar o essencial e comunicar em linguagem clara e objetiva. No Brasil pós-ditadura, três políticos juntaram esses atributos. Mesmo sendo um desastre político, Fernando Collor teve insights brilhantes, definir o rumo para os quase vinte anos seguintes.

Sobre Estadistas – 2

De seu lado, o governador paulista Mário Covas conseguiu definir um discurso de casamento da política com o bem comum e da importância da responsabilidade fiscal, que seria uma das marcas dos anos 90. Junto com Sérgio Motta são os políticos que dão o tom da social democracia do PSDB, que se perde depois com a diluição do governo FHC e com sua liderança posterior, descaracterizando o partido.

Sobre Estadistas – 3

Na entrevista, Lula consolida definitivamente os valores que marcarão o país daqui para frente: responsabilidade fiscal; resistência total contra a inflação; defesa da produção nacional; extensão da responsabilidade sobre o país para todos os setores, não apenas o governo; a importância fundamental da inclusão social; a visão da política, sem as radicalizações de outros momentos e de outras campanhas.

Sobre Estadistas – 4

A maneira como se refere aos candidatos – Dima, José Serra, Marina Silva e Heloisa Helena – mostra o político que prepara-se para sair de cena colocando-se acima das paixões da política diária. Qualquer um deles seria ótimo para o país, por casarem responsabilidade social com seriedade e visão próxima sobre o futuro. A maneira como desmonta o terrorismo contra Serra é exemplar.

Sobre Estadistas – 5

Deve-se ler várias vezes a entrevista para se acreditar nela. Não se trata de boa vontade com o sindicalista que fala errado mas se expressa bem. O que impressiona é a doutrina exposta, a capacidade de identificar os pontos essenciais na construção de um país, a lógica objetiva com que expõe os princípios. Enfim, uma aula de teoria política inimaginável a alguém com a formação de Lula.


Sobre Estadistas – 6

Com seu discurso, além disso, ele procura esvaziar a grande ameaça que poderia comprometer o futuro do país: a radicalização nas próximas eleições, criando um clima de divisão do país e expondo o vitorioso a quatro anos de guerra com a oposição. Depois o início atabalhoado de seu governo, do episódio do “mensalão”, da falta de traquejo inicial para alianças, Lula chega ao último ano como um dos presidentes fundamentais na história do país.

sábado, 8 de agosto de 2009

Com o pensamento longe...

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida".

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

terça-feira, 21 de abril de 2009

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Trago do sonho outro sonho

Me apaixonei por Neruda antes de ler seus poemas. Me apaixonei por sua vida, por suas histórias, por suas viagens, seus amores. Muitos amores, de mulheres que ele amou às vezes por pouco tempo, mas sempre intensamente. Caí de amores por ele como uma dessas mulheres que ele encantou durante a vida.

Em Neruda, me apaixonei primeiro pela intensidade com que viveu. Só depois de ler "Confesso que Vivi" fui atrás do poeta Neruda. E por saber de sua vida, entendi melhor a beleza do Chile e de cada parte do mundo por onde passou. No fim, à beira do mar, em Valparaíso, Pablo Neruda dedicou-se a amar Matilde, colecionar caracóis, escrever. O livro termina num momento onde a esperança parece não mais existir. As últimas linhas que escreve falam do assassinato de Allende e do golpe militar. O poeta está sem fôlego, o diplomata fala no último capítulo.

Allende morreu acuado. "Após o bombardeio aéreo, vieram os tanques, muitos tanques, para lutar intrepidamente contra um só homem: o Presidente da República do Chile, Salvador Allende, que os esperava em seu gabinete, sem outra companhia a não ser seu grande coração envolto em fumaça e chamas (...)".

Logo depois de Allende, ele também se vai. Tem a casa saqueada e destruída ainda durante o velório. Seu último livro de poemas ficou inacabado, mas como outros grandes homens e artistas que morreram lutando por causas infinitamente maiores que a estupidez humana, deixou para sempre um desafio aos que não suportam os sonhos do povo.


"Não há muito o que contar,
para amanhã
quando já desça
ao Bom-Dia
é necessário para mim
este pão
dos contos
dos cantos.
Antes da alba, depois da cortina
também, aberta ao sol do frio,
à eficácia de um dia turbulento.

Devo dizer: aqui estou,
isto não me aconteceu e isto acontece;
enquanto isto as algas do oceano
se movem predispostas
à onda,
e cada coisa tem sua razão,
sobre cada razão um movimento
como de ave marinha que levanta
da pedra, da água, da alga flutuante.

Eu com minhas mãos devo
chamar: venha qualquer um.

Aqui está o que tenho, o que devo,
Ouçam a conta, o conto e o som.

Assim cada manhã de minha vida
trago do sonho outro sonho."

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Esse é o cara




"Na foto dos 31 líderes mundiais reunidos quarta-feira no encontro ampliado do G20 em Londres para decidir os novos rumos do planeta diante da crise, o presidente Lula aparece sentado, sorridente ao lado da rainha Elizabeth 2ª e do anfitrião, o primeiro-ministro britânico Gordon Brown.

Atrás dele, em pé, com o mesmo sorriso franco, está o homem mais poderoso do mundo, Barack Obama, o presidente dos Estados Unidos, que deixou o Clóvis Rossi tão encantado durante uma entrevista que nem falou da foto em sua coluna.

Pode parecer um detalhe banal, tanto que a foto não está nem na primeira página da Folha, o jornal que assino e leio no café da manhã. Também não se faz, nos caudalosos textos das páginas internas, qualquer referência à posição privilegiada do nosso presidente na foto oficial.

Quais foram os critérios? Quem determinou onde ficaria cada um dos líderes? Gostaria de saber. Será que não havia nenhum repórter lá quando este time dos donos do poder mundial se ajeitou e posou para a fotografia?

Trata-se de uma imagem emblemática sobre a nova posição que o Brasil ocupa no mundo, pois até pouco tempo atrás não era tão comum o nosso país participar de reuniões deste porte, muito menos o presidente brasileiro sair tão bem na foto, cheio de graça e moral.

“Para um torneiro-mecânico até que está bom demais…”, eu costumava brincar com ele quando o acompanhava a estas reuniões nos dois primeiros anos de governo. Até para o próprio Lula, acho que tudo isso já virou rotina e nem lhe chama mais a atenção.

Mais importante do que a imagem, porém, é a nova atitude da delegação brasileira nestes encontros. Ao invés de ir lá mendigar ajuda ao FMI para não quebrar, agora o Brasil toma a iniciativa de propor uma reforma deste organismo multilateral _ e se propõe a ajudar os países mais pobres.

“Vamos falar de igual para igual. Se for necessário colocar dinheiro como empréstimo, desde que não diminua nossas reservas, não tem problema. O Brasil não vai agir como se fosse um paisinho pequeno sem importância”, avisou Lula na entrevista que concedeu na viagem de trem até Londres, depois de almoçar com o presidente francês Nicolas Sarkosy, em Paris.

Ele agora pode falar isso porque o Brasil durante seu governo não só zerou a famigerada dívida externa como tem hoje mais de 200 bilhões de dólares em reservas internacionais.

Em seis anos e três meses de governo, o antigo líder sindical mudou a cara do Brasil lá fora e é recebido e respeitado pelos principais líderes mundiais como um igual. Hoje à tarde, por exemplo, terá um encontro bilateral solicitado pelo presidente da China, Hu Jintao.

Lula, de fato, não precisa ler os jornais brasileiros para saber o que pensam os homens que decidem os destinos da economia mundial. Fala diretamente com eles e por eles é ouvido como jamais aconteceu antes com qualquer outro presidente brasileiro.

Sei que alguns leitores vão se sentir injuriados e pessoalmente ofendidos com o texto acima. Mas estes são os fatos, meus caros amigos, não há mais como negar. E me sinto muito feliz por poder relatá-los a vocês, ao contrário de alguns colegas que insistem em esconder a realidade.".

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Mensagem de Amor

Os livros na estante
já não têm mais tanta importância
Do muito que eu li, do pouco que sei
Nada me resta

A não ser a vontade de te encontrar
O motivo eu já nem sei
Nem que seja só para estar ao seu lado
Só pra ler no seu rosto
Uma mensagem de amor

À noite eu me deito,
Então escuto a mensagem no ar
Tambores rufando
Eu já não tenho nada pra te dar

No céu estrelado eu me perco
Com os pés na terra
Vagando entre os astros
Nada me move nem me faz parar

A não ser a vontade de te encontrar
O motivo eu já nem sei
Nem que seja só para estar ao seu lado
Só pra ler no seu rosto
Uma mensagem de amor

(Herbert Vianna)

sexta-feira, 27 de março de 2009

terça-feira, 17 de março de 2009

A indústria por trás do basquete

No Brasil, país em que o esporte mais popular é tratado com paixão pelos torcedores e que a diferença entre profissional e amador pode ser apenas o salário milionário de estrelas como Ronaldo Fenômeno, ver uma partida da Liga Americana de Basquete, a NBA, pode ser mais do que conferir grandes jogadas de astros de um esporte quase sem patrocínio no Brasil. É, com certeza, uma experiência de como o "produto basquete" pode render mais do que jogadas espetaculares.

Na entrada do American Airlines Arena talvez você se sentisse no Brasil. Não pelo clima, mas pelos cambistas. Mas as semelhanças acabam aí. Um dos ingressos mais baratos custa US$ 80, para a arquibancada superior. Após serem revistados, os torcedores podem pegar a revista do Miami Heat, time da casa, com o ídolo Dwayne Wade na capa, e subirem os vários andares de escada rolante, convidados a terem seu estilo, suas roupas e estarem "na sua casa". Na lojinha do térreo, muitos já se sentem à vontade para levar um dos inúmeros suvenires. De bonés, por US$ 20, a camisas e shorts de vários modelos femininos e masculinos, com preços que podem chegar a US$ 80, para o padrão oficial.

Mas você é novo no esporte e decidiu ir direto ao jogo. Em quadra, o Miami Heat enfrenta o Phoenix Suns, do brasileiro Leandrinho e de estrelas como Shaquille O'Neal e Steve Nash. Os salários deles podem ultrapassar os US$ 20 milhões e há quem diga que a crise financeira pode fazer com que sejam reduzidos. Mas as cifras não estão explícitas no espetáculo. Não bastasse o jogo disputado, o placar apertado e as jogadas inacreditáveis, um locutor agita a torcida a cada tiro direto, a cada cesta, provocando os adversários, chamando o público para a quadra.

Nos intervalos entram DJ, líderes de torcida, mascote do time, uma equipe de TV ao vivo, anúncios de produtos, para lembrar que você está na América e que eles se orgulham disso. É um show. Do esporte, também. Mas é business.

Quando a partida acaba, depois de gritar tantas vezes Wade! (maior pontuador do jogo, com 35) você também quer levar o ídolo para casa. Na lojinha lotada, os suvenires são vendidos rapidamente. Olhando para toda aquela estrutura é difícil acreditar que os salários dos astros sejam reduzidos. Ah, o Heat venceu o Phoenix Suns por 135 a 129. E o Brasil precisa aprender com os americanos o que é esporte profissional.

* Publicado no Diario de Pernambuco