quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Dona de casa (quase!) desesperada

Se você me perguntar como se faz uma echarpe de cachemire, não vou saber explicar de forma alguma. No máximo, vou conseguir dizer que é feita de lã de lhamas de uma região perto da Índia e do Paquistão, que eu não tenho certeza se fica dentro do terrítório da China ou da Índia, ou mesmo se é um território independente. É isso?!

Agora, se a pergunta for como se destrói uma echarpe de cachemire, a resposta será imediata: - É só colocar na máquina de lavar!

Mas que idiota colocaria uma echarpe de cachemire na máquina de lavar? Você pode retrucar, obviamente.

Uma idiota solteira, moradora do Recife, sem tempo para lavar roupas??? Pra você é uma resposta aceitável?

Questão respondida, vamos à segunda ideia que me ocorreu quase agora, enquanto eu lamentava a cachemire perdida: máquinas de lavar deveriam conversar com a gente.

Sempre que fôssemos colocar roupas para lavar, poderíamos ouvir a nossa interlocutora avisar:

Moderadamente - não coloque essa roupa aqui.

Em sinal de alerta - esse tecido desbota!

Ríspida e simplesmente - não!!!

A tecnologia facilitaria muito a vida de quem usa o equipamento e reduziria drásticamente o prejuízo de várias cores misturadas num arco-íris de roupas girando dentro da água. Simples e eficiente.

No caso de hoje, evitaria a imagem de muitas plumas despedaçadas, como se eu tivese colocado uma galinha para lavar na máquina que gira.

Daria um filme também. A amizade sólida entre uma mulher e sua máquina de lavar. Diferente do "Eletrodoméstica" de Kléber Mendonça Filho, porque neste caso seria uma tragicomédia.

Meu lado otimista dirá: perdi a cachemire, mas ganhei várias roupas com um "tom" invernal!

Você responderá: é verão!!! Mínima de 30ºC na sombra, numa cidade quase na Linha do Equador.

Resta-me confessar a estupidez e mostrar a imagem do caos.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Alimento da alma




Blackbird
Paul McCartney
Composição: Lennon/McCartney


Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise.

Blackbird singing in the dead of night
Take these sunken eyes and learn to see
All your life
You were only waiting for this moment to be free.

Blackbird fly Blackbird fly
Into the light of the dark black night.

Blackbird fly Blackbird fly
Into the light of the dark black night.

Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise
You were only waiting for this moment to arise
You were only waiting for this moment to arise.

domingo, 3 de outubro de 2010

domingo, 12 de setembro de 2010

O vento



O VENTO

Posso ouvir o vento passar,
assistir à onda bater,
mas o estrago que faz
a vida é curta pra ver...
Eu pensei..
Que quando eu morrer
vou acordar para o tempo
e para o tempo parar:
Um século, um mês,
três vidas e mais
um passo pra trás?
Por que será?
... Vou pensar.

- Como pode alguém sonhar
o que é impossível saber?
- Não te dizer o que eu penso
já é pensar em dizer
e isso, eu vi,
o vento leva!
- Não sei mais
sinto que é como sonhar
que o esforço pra lembrar
é a vontade de esquecer...
E isso por que?
Diz mais!
Uh... Se a gente já não sabe mais
rir um do outro meu bem então
o que resta é chorar e talvez,
se tem que durar,
vem renascido o amor
bento de lágrimas.
Um século, três,
se as vidas atrás
são parte de nós.
E como será?
O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz.
Só de encontrar... Ah!!!

sábado, 4 de setembro de 2010

Considerações sobre as eleições e um chamado aos eleitores

Durante muitos anos de minha vida votei em candidatos que não tinham chance de ganhar. Por ideologia, por acreditar nas propostas, acreditar que quando fossem eleitos melhorariam a cidade, o estado e o país em que vivo e pretendo um dia, quem sabe, criar meus filhos.

E digo que não tinham chance de ganhar porque realmente não tinham. De partidos menores, com pouco tempo no guia eleitoral, contavam com militantes como eu, voluntários, para sair às ruas na tentativa de convencer outros eleitores de que existia um modo de ver as coisas diferente, mais igualitário, onde os mais pobres também teriam vez.

Há pouco tempo, relativamente, meu direito de votar, que sempre fiz questão de exercer com grande alegria, começou a ser associado a ver os meus escolhidos eleitos. Que emoção ver as propostas que defendo chegarem a mais pessoas, que também votaram nos candidatos que escolhi e assim os elegeram. E comecei a ter a sensação de vitória também no dia da eleição.

Engana-se, entretanto, quem pensa que por votar nos que provavelmente perderiam, eu achava que desperdiçava meu voto, meu instrumento maior de exercício da democracia. Mesmo às vezes utilizando o “voto útil”, na esperança de favorecer os “menos ruins” – sempre confiei que faz parte da democracia exatamente isso: a liberdade de defender a ideologia e as propostas em que acredito e que estão representadas num partido e em pessoas e, por conseqüência, esperar que no jogo eleitoral, no voto de cada um que pesquisou e entendeu as várias posições diferentes, os meus candidatos vençam.

Não vivi os tempos da ditadura, mas vivi intensamente a redemocratização. Aquela ansiedade, misturada com esperança de quem por tanto tempo não podia ter voz e voltava aos poucos a ser cidadão. Lembro como se fosse hoje o enterro de Tancredo, a tristeza de todos ao meu redor, como se um meteoro tivesse devastado a esperança nova que acabara de nascer.

Lembro a eleição de 89, de fazer campanha com meus amigos do prédio e ver que cada um podia defender abertamente seus candidatos e de seus pais, sem que aquele clima virasse briga. Eram tantos os candidatos e o guia eleitoral parecia uma festa, com jingles impossíveis de esquecer! Votar era realmente uma alegria e todos iam orgulhosos em direção às urnas.

Por tudo isso me incomoda e me assusta o que estamos vendo nesta eleição e temos presenciado em episódios recentes protagonizado pelos opositores ao Governo Lula e aos seus aliados nos estados. Eu, que esperei tanto tempo para ver meus candidatos eleitos no voto, fico abismada com a ousadia desses que se dizem defensores da democracia.

Que democracia defendem, afinal, se não respeitam a escolha das pessoas? Que democracia prezam estes que usam de artifícios baixos, de esquemas inventados e de amedrontar a população com uma falsa fragilidade das instituições, apenas com o intuito de vencerem no “tapetão”. Desrespeitando o direito ao voto, tão suado, que todos demoramos tanto a conquistar? Que democracia dizem defender os que agora desrespeitam mulheres e homens de todo o país?

Como acreditar em quem já defendeu uma surra no presidente Lula e agora nem assume o próprio nome e ideologia e tem vergonha de aparecer com seu candidato majoritário, como o senador Arthur Virgílio? Como acreditar em quem sempre se aproveitou da indústria da seca e das cestas básicas e agora acusa o governo eleito e reeleito pelo povo democraticamente de usar a pobreza para conseguir votos? Como acreditar em quem foi oposição ferrenha por oito anos e agora utiliza a imagem de Lula e esconde Serra do material de campanha, na tentativa de enganar o eleitor?

Minha indignação não tem relação com a defesa apenas dos votos que darei em outubro de 2010. É, antes de mais nada, uma defesa de todos os eleitores. Se não respeitarmos todos os cidadãos e seu direito de eleger os representantes, nada fará sentido neste país, nesta República Federativa do Brasil, democrática há quase 30 anos, depois de outros 20 de mordaça e ditadura militar.

Algo que aprendi na época que meus candidatos não tinham chance de vitória e também na alegria de vê-los eleitos é que é necessário ter dignidade. Dignidade para perder e para ganhar. Porque não vale qualquer jogada. Os fins NÃO justificam os meios.

Tenho vergonha da propaganda do medo. Da tentativa de aterrorizar a população, para que tenha medo das instituições deste país democrático em que vivemos. Vergonha do papel dos meios de comunicação, da soberba com que têm tratado as mudanças sociais e econômicas vividas nos últimos oito anos, como se fossem apenas um apêndice na história do Brasil e não uma mudança significativa e pra valer.

É vergonhosa a manipulação das informações, que seleciona para o grande público apenas o que interessa ao candidato do PSDB, apoiado pelos grandes meios, e esquece a suposta imparcialidade que todos apenas ouvimos falar. Mais honesto seria assumir a defesa de cada lado e pronto. E todos saberíamos de que ponto de vista estão nos fornecendo as informações. Onde está a dignidade, afinal?

Tenho vergonha também de pessoas como Maitê Proença – que clama ao machismo que impeça a eleição de uma mulher. Do mesmo jeito que já corei, constrangida, ao ver Regina Duarte dizer ter medo de um trabalhador na presidência. Vergonha alheia de um Serra emocionado e choroso, que usa a imagem de Lula, finge que não existem conflitos nesta história e que não passou oito anos lutando contra o governo que está aí, o governo do PT. Desmerece o povo e seu passado de feirante, lembrado apenas de uns tempos pra cá.

Vendo todo este cenário, eu me pergunto: qual o problema em ser oposição? Qual o problema em se assumir PFL, em vez de colocar a máscara de democratas. Por que não defender o neoliberalismo, PSDB? Cadê a dignidade de assumir a ideologia e os princípios que se tem? E tentar, com argumentos, convencer as pessoas que este caminho é o melhor para o país? Onde esconderam a dignidade de apresentar propostas, em vez de aterrorizar a sociedade? O caráter de ser o que se é, sem subterfúgios, mas ser digno. Tenho certeza que perdem muitos votos por não serem dignos destes.

PSDB e PFL provavelmente perderão as eleições presidenciais deste ano e muitos governos estaduais, além de vagas na Câmara e no Senado. Por vários motivos. O principal deles é que o povo quer continuidade, está satisfeito com os resultados econômicos e sociais alcançados pelo Governo Lula e deve eleger Dilma e seus aliados para continuar o caminho que está sendo trilhado.

Mas a oposição perderá não apenas votos e participação política no jogo do poder. Também dará adeus à sua dignidade. Por medo de se assumir, por casuísmo, pela ânsia do poder a qualquer custo. E acredito que assim será por muito tempo, até que aprendam a respeitar o povo.

Não foi apenas a economia que mudou nestes oito anos de um Brasil governado por um trabalhador. Outra coisa está diferente: o povo não está mais suscetível a manipulações. A internet, os blogs, a conversa na rua, o dia-a-dia ganharam uma importância maior.

No dia que aprenderem isso, talvez esta oposição recupere a dignidade e possa novamente disputar uma eleição com um nível de debate aceitável. Até lá, fiquemos todos atentos às jogadas sem ética e sigamos firmes às urnas. Elas serão a resposta a essa podridão que querem nos empurrar a qualquer custo.

Vamos dizer um SIM à alegria de votar e mostrar que a nossa dignidade não tem preço, nem máscara. Pois não é preciso máscara para exercer a cidadania e escolher nossos representantes.

Juliana Cavalcanti
Cidadã, trabalhadora assalariada, eleitora orgulhosa de todas as vezes que votou
Recife – Pernambuco – Brasil
Setembro de 2010

domingo, 22 de agosto de 2010

Frase

"Ainda bem que a realidade não é a verdade. A realidade é o que é. A verdade (é como deus), cada um tem a sua".
(Gustavo Machado, ator, em entrevista à Revista da Cultura, Ed.33 / Abril/ 2010)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Na reta final de mais uma etapa histórica para o país

Hoje começou o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV; um indício de que estamos na reta final da campanha - falta apenas dois meses para a eleição. Em todo este tempo de jogo, desde que foram anunciados os principais competidores, no fim de 2008, o que tem se visto é uma série de preconceitos serem repetidos pela grande mídia.

Com duas mulheres na disputa, com o principal opositor e preferido da mídia do sexo masculino, temos visto algo que antes não era considerado, ou mesmo colocado nos debates eleitorais.

O cabelo, a roupa, o estilo e a falta dele, passaram a ser relevantes. A plástica, a peruca, o sem peruca. Numa competição de beleza difícil de ser encarada, quando o que deveria estar em jogo são as propostas.

No quesito propostas e candidatas, acho que estamos bem. Próximos de ter a primeira presidente mulher da história do Brasil. Vi os programas de hoje e fiquei feliz e emocionada.

Gosto muito de eleições. Sempre fiz questão de votar e vou sempre com muito orgulho exercer o meu direito. Este ano, votarei numa mulher. Meu primeiro voto diferente desde que comecei a votar pra presidente. Todas as outras vezes votei em Lula.

Ainda tenho medo de alguma baixaria de última hora, alguma armação para atrapalhar o que parece ser o curso normal da eleição até agora. Mas confio na democracia - que Dilma ajudou a reconquistar, lutando diretamente por ela. E confio no voto.

Espero ter a felicidade de ver, em 1º de janeiro de 2011, a posse de Dilma Roussef como primeira presidenta do Brasil. Como diz um dos jingles da campanha dela: vai dar saudade de Lula. Mas mais uma vez estaremos escrevendo uma história melhor para o Brasil.

sábado, 14 de agosto de 2010

"Felino! Não reconhecerás"

Desde que adotei minha primeira gatinha, em janeiro deste ano, estou cada vez mais apaixonada pelo mundo dos felinos. Carinhosas, engraçadas, espertas, divertidas... esqueça tudo o que todo mundo fala sobre os gatos: que são interesseiros, que vivem sós e não dão muita atenção.

Cada dia me surpreendo mais com minhas duas lindas felinas. A primeira chegou em janeiro, a segunda chegou em julho. No início se estranharam, mas agora já se adoram. E eu amo as duas fofinhas.

Brinco que uma é uma coelhinha e a outra um esquilinho, bem danadinha.

Elas fazem festa quando eu chego em casa, me lambem como se eu fosse a mamãe-gata, deitam no chão de barriga pra cima, pra ganhar um carinho, e dormem muuuuiiitttaasss horas. Não imaginava que gatos dormissem tanto!

Uma é comilona, a outra é mais dorminhoca. As duas são muito engraçadas. Apareceram aqui na frente do meu prédio e não tive como não trazê-las para casa.

No início, tinha medo de me apegar; disse que ia dar para adoção; tinha medo de ter trabalho demais e de ter um compromisso. Hoje, não penso mais em nada disso. Esse compromisso que tenho com elas, na verdade é um grande prazer.

Gato se diverte com tudo. Qualquer coisa que mexa, qualquer sombra, é pura diversão. Não come muito, usa o 'banheiro' sem precisar de adestramento e é bem companheiro. Pelo menos, as minhas duas gatinhas são bem companheiras. Onde eu vou, elas vão atrás, saltitantes.

Além de passar metade do dia dormindo, acho que a outra metade elas passam se lambendo. Muito asseadas minhas gatas. Eheheheheheh... O sofá não é mais o mesmo depois da chegada delas, mas não ligo não. Eu também não sou mais a mesma. Tenho aprendido a me doar mais, a não me preocupar com besteira e a prestar atenção em pequenas grandes coisas.

Um amor que não pede nada em troca; carinho sem exigências. Tão lindas!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Novamente

"Me disse vai embora, eu não fui
Você não dá valor ao que possui
Enquanto sofre, o coração intui
Que ao mesmo tempo que magoa o tempo
O tempo flui
E assim o sangue corre em cada veia
O vento brinca com os grãos de areia
Poetas cortejando a branca luz
E ao mesmo tempo que machuca o tempo me passeia

Quem sabe o que se dá em mim?
Quem sabe o que será de nós?
O tempo que antecipa o fim
Também desata os nós
Quem sabe soletrar adeus
Sem lágrimas, nenhuma dor
Os pássaros atrás do sol
As dunas de poeira
O céu de anil no pólo sul
A dinamite no paiol
Não há limite no anormal
É que nem sempre o amor
É tão azul

A música preenche sua falta
Motivo dessa solidão sem fim
Se alinham pontos negros de nós dois
E arriscam uma fuga contra o tempo
O tempo salta"

Ney Matogrosso - Fred Martins e Alexandre Lemos

domingo, 6 de junho de 2010

Cestão da Economia

Inspirada no nome de um mercadinho na cidade de Una, aqui no Sul da Bahia, a poucos quilômetros do resort de Comandatuba, onde acontece o 9º Fórum de Empresários, observo os ricos e famosos de um ponto de vista que nem sempre temos a chance de ver. Sabendo que a visão preconceituosa também existe do meu lado, que olho de longe essa pequena elite do Brasil, acredito que há realmente “curiosidades” merecedoras de destaque.

1. As empresas que fazem parte do Grupo de Líderes Empresariais formam 44% do PIB privado do Brasil. Em sua maioria, são ricos de berço, como se diz. Parte da aristocracia brasileira, esses líderes parecem desconhecer a luta das mulheres pela igualdade de direitos entre os gêneros. Várias vezes durante o seminário, apresentadores e palestrantes agradeceram às esposas dos empresários. Algo que passa despercebido, mas que é inclusive uma indelicadeza com as mulheres empresárias presentes no evento e com as que compõem a mesa de palestrantes: Jeanine Pires, presidente da Embratur; Luiza Helena Trajano, presidente do grupo Magazine Luiza, uma das maiores redes varejistas do Brasil; e Viviane Senna, diretora do Instituto Ayrton Senna.

2. Por falar em Viviane Senna, ela deve ser parabenizada pela eficiência na arrecadação de recursos para a sua entidade. Em pouco mais de duas horas, conseguiu arrecadar R$ 1,8 milhão em doações dos empresários que participam do evento. Em um dia, a quantia arrecadada somou R$ 2 milhões e antes do início do segundo dia do Fórum de Empresários, o ex-ministro Luiz Fernando Furlan anunciou a doação de R$ 120 mil para o Instituto - R$ 60 mil por ele e R$ 60 mil em nome da esposa (olha a esposa aí de novo). Só para fazer uma comparação, o ministro dos Esportes, Orlando Silva, revelou que no ano de 2009 inteiro, a Lei de Incentivo aos Esportes só conseguiu R$ 120 mil de empresários para patrocinar atletas/projetos/modalidades esportivas. Talvez o esporte não dê a visibilidade ou tenha o apelo emocional do Instituto Ayrton Senna. Será?

3. No meio das celebridades - entre elas, Adriane Galisteu, Regina Duarte, Angelina Muniz, Daniela Mercury, Cristiane Torloni e Silvia Popovic - e de políticos (vários deputados federais, prefeitos, governadores e senadores) os empresários discutem sustentabilidade. Mas não dá para não notar o esforço de alguns - como o atuante Jorge Gerdau - de convencer o empresariado a se engajar de verdade na construção de um país melhor e não apenas doando cotas de R$ 60 mil para uma ONG;

4. Mesmo destacando de tempos em tempos que o evento é apartidário e que não há nenhuma ideologia motivando as discussões, na prática, a teoria é outra. Na palestra do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles respondeu pergunta de deputados do DEM sobre a importância da Lei de Responsabilidade Fiscal e de medidas de estabilização da economia – numa referência ao governo de Fernando Henrique Cardoso. Sem se fazer de rogado, Meirelles respondeu com a história do Brasil... foi ao ano de 1822 – da Independência; passou pela década de 1980 e pelos governos de Itamar Franco e FHC, para voltar ao Governo Lula.

5. Do mesmo modo, qualquer referência crítica aos projetos sociais do governo federal tem sido sempre aplaudida, enquanto a defesa do mercado livre e da menor atuação do estado é sempre lembrada como ponto importante para o empresariado. Ao ponto de uma citação à infraestrutura aeroportuária motivar de imediato a defesa da privatização dos aeroportos brasileiros e uma vaia ao ministro dos Esportes, quando disse que o serviço das empresas aéreas e dos principais aeroportos do país não difere muito do que se vê no resto do mundo. Fica clara a diferença sobre visões de país que existe entre o governo atual e os que detêm o capital.

6. O estado tem sido sempre tratado como ineficiente e o meio empresarial sempre como expert em gestão. Algo tão explícito que motivou uma intervenção do governador da Bahia, Jacques Wagner, lembrando que só existe corrupto porque existe quem corrompe e que há anjos e demônios de ambos os lados. Nem os empresários, nem o setor público podem se considerar acima do bem e do mal, ressaltou o governador, recebendo aplausos tímidos da platéia.

7. Curioso também foi ver Viviane Senna “esquecer”o nome da cidade do Sudeste onde o Instituto Ayrton Senna escolheu o exemplo de um garoto analfabeto funcional, na 6ª série do Ensino Fundamental. Ela citou que a entidade desenvolve projetos em Pernambuco, na Paraíba e em São Paulo. Chamou a pernambucana que aprendeu a ler aos 10 anos de idade e citou o garoto de São Paulo apenas como “de uma cidade do Sudeste do país”. Será que a presença do ex-governador Geraldo Alckmin na mesa de conferencistas tem alguma relação com a amnésia momentânea da irmã de Senna.

8. Na mesma linha, a atriz Regina Duarte demonstrou ter medo (?!) de mudanças na Lei Rouanet, que estaria centralizando a aprovação de projetos e discriminando artistas e produtores. Aí entra o ministro Orlando Silva, que tem se saiu muito bem na sua apresentação, defendendo a visão do governo de descentralização dos recursos em várias áreas, incluindo aí a cultura, os esportes e o turismo. “Nunca antes da história desse país...”, disse, citando o presidente Lula e conseguindo risos dos presentes, “houve um esforço tão grande para a descentralização de recursos e projetos, priorizando todas a regiões”. O ministro defendeu o encaminhamento de recursos para manifestações culturais populares, experimentais e que nem sempre atraem o interesse do patrocínio privado e negou que haja preconceito dentro do governo. “A seleção de vôlei tem 15 patrocinadores, mas a esgrima não tem nenhum. O interesse do estado é democratizar o acesso aos recursos também e cumprir os projetos de governo presentes no seu planejamento”.

9. Aloizio Mercadante, acaba de fazer uma observação: "Ontem, nos depoimentos lindos que vimos nas atividades, vimos Adriane Galisteu e Abílio Diniz dizerem que vivemos o melhor momento do país. Não somos mais periféricos - que pede emprestado - nós emprestamos". Isso dá uma análise antropológica: os ricos e famosos concordam que vivemos um momento de sucesso, mas estão sempre tentando uma forma de negar essas afirmações. Talvez com um certo medo de que assumir isso os leve a concordar que seus pares não foram eficientes na condução do país no passado, ou de que o mercado nem sempre é a solução, ou ainda que projetos sociais e a presença do estado podem ser positivos. Podem?! Ah, é que não tem nenhuma ideologia motivando os debates, né, pessoal!? Eu tinha esquecido.

No mais, dentro desse antagonismo de visões a respeito do Brasil e da falta de povo neste cenário lindo de novela, a Ilha de Caras segue tranqüila. Tudo é luxo e riqueza. Os ricos não sabem, mas as baianas que servem a comida e sorriem o tempo inteiro nesse sol de lascar, não sabem quanto ganham pra trabalhar o dia inteiro todos os dias. Elas não têm carteira assinada e acham que ganham entre R$ 12 e R$ 16 por dia. Pagam a passagem para chegar aqui no resort e delas também é cobrada a alimentação. No fim do mês, o chefe dá o dinheiro e elas são obrigadas a confiar que ele está pagando o "combinado" pelas horas trabalhadas. Deve estar, né? Afinal, a escravidão foi abolida em 1888, num foi?

Nos intervalos, os ricos de verdade têm a opção de escolher o modelo de jatinho que os levará pelo Brasil e pelo mundo, ou um carro mais luxuoso; concorrerão num sorteio de um colar de ouro com diamantes e degustam iguarias preparadas por um chef especialmente convidado.

Uma delícia de lugar, de possibilidades de lazer e descanso e de variedade gastronômica. Que os debates e os interesses demonstrados pelo país sejam sinceros é o que se deseja, pois quem conseguiu doar R$ 2,2 milhões para um projeto social em um dia e meio de encontro e realmente tem eficiência em gestão, pode fazer muito para melhorar as condições de vida do Brasil. Basta sair da ilha e começar a atuar.

* Texto de 23 de abril de 2010

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Desatino

Havia um quê de precipício naquela situação. Alguma coisa Thelma & Louise, no carro, rumo ao desfiladeiro. Talvez ela estivesse dentro daquele conversível, se a vida fosse um filme.

Ali, vendo todos despacharem suas bagagens e embarcarem, ela pensava onde tinha deixado a cabeça e o coração antes de sair de casa. O coração estava na boca, pronto para sair a qualquer sinal de adeus. A cabeça ela tinha perdido, com certeza! E fazia algum tempo.

Viu cada um apresentar seu bilhete e seguir. Viu os que estavam de férias, felizes. Viu as despedidas emocionadas e cheias de lágrimas. Muitos a viram também. Parada. Caminhando de um lado pra outro. Parada.

Os olhos que percorriam cada rosto, à procura de apenas um. E todos se foram. Só ela no mesmo lugar. A vida passando ao seu redor. Vontade de pular no despenhadeiro com Thelma & Louise.

Sem saber que caminho seguir depois de tanto tempo, baixou a cabeça e se foi. Levou o coração na mão. As lágrimas só encontrou em casa. A cabeça ainda está perdida.