domingo, 12 de setembro de 2010

O vento



O VENTO

Posso ouvir o vento passar,
assistir à onda bater,
mas o estrago que faz
a vida é curta pra ver...
Eu pensei..
Que quando eu morrer
vou acordar para o tempo
e para o tempo parar:
Um século, um mês,
três vidas e mais
um passo pra trás?
Por que será?
... Vou pensar.

- Como pode alguém sonhar
o que é impossível saber?
- Não te dizer o que eu penso
já é pensar em dizer
e isso, eu vi,
o vento leva!
- Não sei mais
sinto que é como sonhar
que o esforço pra lembrar
é a vontade de esquecer...
E isso por que?
Diz mais!
Uh... Se a gente já não sabe mais
rir um do outro meu bem então
o que resta é chorar e talvez,
se tem que durar,
vem renascido o amor
bento de lágrimas.
Um século, três,
se as vidas atrás
são parte de nós.
E como será?
O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz.
Só de encontrar... Ah!!!

sábado, 4 de setembro de 2010

Considerações sobre as eleições e um chamado aos eleitores

Durante muitos anos de minha vida votei em candidatos que não tinham chance de ganhar. Por ideologia, por acreditar nas propostas, acreditar que quando fossem eleitos melhorariam a cidade, o estado e o país em que vivo e pretendo um dia, quem sabe, criar meus filhos.

E digo que não tinham chance de ganhar porque realmente não tinham. De partidos menores, com pouco tempo no guia eleitoral, contavam com militantes como eu, voluntários, para sair às ruas na tentativa de convencer outros eleitores de que existia um modo de ver as coisas diferente, mais igualitário, onde os mais pobres também teriam vez.

Há pouco tempo, relativamente, meu direito de votar, que sempre fiz questão de exercer com grande alegria, começou a ser associado a ver os meus escolhidos eleitos. Que emoção ver as propostas que defendo chegarem a mais pessoas, que também votaram nos candidatos que escolhi e assim os elegeram. E comecei a ter a sensação de vitória também no dia da eleição.

Engana-se, entretanto, quem pensa que por votar nos que provavelmente perderiam, eu achava que desperdiçava meu voto, meu instrumento maior de exercício da democracia. Mesmo às vezes utilizando o “voto útil”, na esperança de favorecer os “menos ruins” – sempre confiei que faz parte da democracia exatamente isso: a liberdade de defender a ideologia e as propostas em que acredito e que estão representadas num partido e em pessoas e, por conseqüência, esperar que no jogo eleitoral, no voto de cada um que pesquisou e entendeu as várias posições diferentes, os meus candidatos vençam.

Não vivi os tempos da ditadura, mas vivi intensamente a redemocratização. Aquela ansiedade, misturada com esperança de quem por tanto tempo não podia ter voz e voltava aos poucos a ser cidadão. Lembro como se fosse hoje o enterro de Tancredo, a tristeza de todos ao meu redor, como se um meteoro tivesse devastado a esperança nova que acabara de nascer.

Lembro a eleição de 89, de fazer campanha com meus amigos do prédio e ver que cada um podia defender abertamente seus candidatos e de seus pais, sem que aquele clima virasse briga. Eram tantos os candidatos e o guia eleitoral parecia uma festa, com jingles impossíveis de esquecer! Votar era realmente uma alegria e todos iam orgulhosos em direção às urnas.

Por tudo isso me incomoda e me assusta o que estamos vendo nesta eleição e temos presenciado em episódios recentes protagonizado pelos opositores ao Governo Lula e aos seus aliados nos estados. Eu, que esperei tanto tempo para ver meus candidatos eleitos no voto, fico abismada com a ousadia desses que se dizem defensores da democracia.

Que democracia defendem, afinal, se não respeitam a escolha das pessoas? Que democracia prezam estes que usam de artifícios baixos, de esquemas inventados e de amedrontar a população com uma falsa fragilidade das instituições, apenas com o intuito de vencerem no “tapetão”. Desrespeitando o direito ao voto, tão suado, que todos demoramos tanto a conquistar? Que democracia dizem defender os que agora desrespeitam mulheres e homens de todo o país?

Como acreditar em quem já defendeu uma surra no presidente Lula e agora nem assume o próprio nome e ideologia e tem vergonha de aparecer com seu candidato majoritário, como o senador Arthur Virgílio? Como acreditar em quem sempre se aproveitou da indústria da seca e das cestas básicas e agora acusa o governo eleito e reeleito pelo povo democraticamente de usar a pobreza para conseguir votos? Como acreditar em quem foi oposição ferrenha por oito anos e agora utiliza a imagem de Lula e esconde Serra do material de campanha, na tentativa de enganar o eleitor?

Minha indignação não tem relação com a defesa apenas dos votos que darei em outubro de 2010. É, antes de mais nada, uma defesa de todos os eleitores. Se não respeitarmos todos os cidadãos e seu direito de eleger os representantes, nada fará sentido neste país, nesta República Federativa do Brasil, democrática há quase 30 anos, depois de outros 20 de mordaça e ditadura militar.

Algo que aprendi na época que meus candidatos não tinham chance de vitória e também na alegria de vê-los eleitos é que é necessário ter dignidade. Dignidade para perder e para ganhar. Porque não vale qualquer jogada. Os fins NÃO justificam os meios.

Tenho vergonha da propaganda do medo. Da tentativa de aterrorizar a população, para que tenha medo das instituições deste país democrático em que vivemos. Vergonha do papel dos meios de comunicação, da soberba com que têm tratado as mudanças sociais e econômicas vividas nos últimos oito anos, como se fossem apenas um apêndice na história do Brasil e não uma mudança significativa e pra valer.

É vergonhosa a manipulação das informações, que seleciona para o grande público apenas o que interessa ao candidato do PSDB, apoiado pelos grandes meios, e esquece a suposta imparcialidade que todos apenas ouvimos falar. Mais honesto seria assumir a defesa de cada lado e pronto. E todos saberíamos de que ponto de vista estão nos fornecendo as informações. Onde está a dignidade, afinal?

Tenho vergonha também de pessoas como Maitê Proença – que clama ao machismo que impeça a eleição de uma mulher. Do mesmo jeito que já corei, constrangida, ao ver Regina Duarte dizer ter medo de um trabalhador na presidência. Vergonha alheia de um Serra emocionado e choroso, que usa a imagem de Lula, finge que não existem conflitos nesta história e que não passou oito anos lutando contra o governo que está aí, o governo do PT. Desmerece o povo e seu passado de feirante, lembrado apenas de uns tempos pra cá.

Vendo todo este cenário, eu me pergunto: qual o problema em ser oposição? Qual o problema em se assumir PFL, em vez de colocar a máscara de democratas. Por que não defender o neoliberalismo, PSDB? Cadê a dignidade de assumir a ideologia e os princípios que se tem? E tentar, com argumentos, convencer as pessoas que este caminho é o melhor para o país? Onde esconderam a dignidade de apresentar propostas, em vez de aterrorizar a sociedade? O caráter de ser o que se é, sem subterfúgios, mas ser digno. Tenho certeza que perdem muitos votos por não serem dignos destes.

PSDB e PFL provavelmente perderão as eleições presidenciais deste ano e muitos governos estaduais, além de vagas na Câmara e no Senado. Por vários motivos. O principal deles é que o povo quer continuidade, está satisfeito com os resultados econômicos e sociais alcançados pelo Governo Lula e deve eleger Dilma e seus aliados para continuar o caminho que está sendo trilhado.

Mas a oposição perderá não apenas votos e participação política no jogo do poder. Também dará adeus à sua dignidade. Por medo de se assumir, por casuísmo, pela ânsia do poder a qualquer custo. E acredito que assim será por muito tempo, até que aprendam a respeitar o povo.

Não foi apenas a economia que mudou nestes oito anos de um Brasil governado por um trabalhador. Outra coisa está diferente: o povo não está mais suscetível a manipulações. A internet, os blogs, a conversa na rua, o dia-a-dia ganharam uma importância maior.

No dia que aprenderem isso, talvez esta oposição recupere a dignidade e possa novamente disputar uma eleição com um nível de debate aceitável. Até lá, fiquemos todos atentos às jogadas sem ética e sigamos firmes às urnas. Elas serão a resposta a essa podridão que querem nos empurrar a qualquer custo.

Vamos dizer um SIM à alegria de votar e mostrar que a nossa dignidade não tem preço, nem máscara. Pois não é preciso máscara para exercer a cidadania e escolher nossos representantes.

Juliana Cavalcanti
Cidadã, trabalhadora assalariada, eleitora orgulhosa de todas as vezes que votou
Recife – Pernambuco – Brasil
Setembro de 2010