quarta-feira, 20 de maio de 2015

A língua italiana e a tecla SAP

No prédio em que morei em Florença, eu tinha dois pequenos vizinhos. Devem ter uns cinco ou seis anos. Pela manhã estavam sempre atrasados, com sono, com fome, com preguiça. No fim do dia, sempre animados, falantes e rindo. Todo dia de manhã saíam de casa choramingando. Todo fim de dia voltavam pra casa se divertindo.

Acompanhar os italianinhos, mesmo que apenas nas conversas de corredor, era observar como aprendem a língua e já falam ritmados desde pequenos e ter a certeza de que a cada palavra dita na rua por mim, os italianos terão a certeza de que sou estrangeira. Porque mais do que aprender a falar italiano, você deve aprender a "cantar" italiano. E não acredito que exista uma técnica para isso.

Talvez depois de muitos anos vivendo aqui uma pessoa consiga um ritmo semelhante. Será bravissima! :-)

Por mais que tenha perdido o receio de falar e hoje em dia já me comunique sem medo de colocar uma vez ou outra uma palavra em português e outra em espanhol no jogo de advinhação que às vezes se transforma conversar numa língua que não é a sua, tenho certeza que não tenho o modo de cantar italiano. E tenho problemas com a conjugação dos verbos (muitos tempos, muitas formas, da mesma forma que o português e o francês).

Essa certeza é reforçada quando falo com alguém num hotel, ou numa loja, e a resposta vem em inglês e espanhol. Sinal de que a pessoa percebeu de cara que o italiano não é a minha língua mais original. :-D Mas o povo daqui é gentil e sempre diz que você fala muito bem (talvez gostassem de completar: para uma estrangeira! eheheheheheheh...).

Além de falar gramaticalmente certo, o meu desejo é um dia utilizar todas as pequenas expressões que fazem o ritmo da conversa. "Mà dai!", "Beh!", "Figurate!", "Magari!" e Valeriu, meu amigo romeno, reparou que em Roma eles também falam muito "Má per carità!".

Aqui na Sicília eu descobri que uma nova língua e às vezes me pego vendo apenas as bocas se mexerem e delas saírem vários e vários sons sem nenhuma explicação. kkkkkkkkk... Os italianos do Sul falam mais rápido e têm muitas expressões idiomáticas e um jeito de falar que penso que deve ser um dialeto específico. Eu que achava que estava com a compreensão ótima e a audição afiada, agora às vezes penso que devo retornar à casa 1 do jogo do aprendizado de uma nova língua.

Outro "problema" que eu estou tendo é que depois desses meses minha tecla SAP está gravemente avariada e não consigo me lembrar de muitas palavras em inglês e em espanhol; línguas que eu falava razoavelmente sem problemas. Agora tenho uma salada de frutas de idiomas no meu cérebro e espero que eles se reordenem quando eu voltar para o Brasil, porque tenho me sentido muitas vezes num jogo de caça-palavras estrangeiras.

O português, claro e obviamente, essa língua linda e maravilhosa, continua sempre comigo.

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