sábado, 7 de setembro de 2013

A cidade que se apaga

Andar pelo Recife nos últimos tempos dá vontade de chorar. Passei esta semana na Av. João de Barros, no Espinheiro, e constatei mais uma agressão aos registros arquitetônicos da cidade. Vão demolir as casas centenárias próximas à igrejinha para construir mais uma torre de concreto.

Quem quiser ver as casas que já tiveram os portões e as grades de ferro retorcido, formando belos desenhos, já não verá as residências (agora cobertas por um alto tapume de madeira, com a marca de uma construtora).

Mais do que a necessidade de sair tombando tudo o que é casa e bairro, falta aos moradores, ao poder público e aos empresários daqui o respeito aos registros que fazem o Recife ser o que é (ou já foi um dia). Falta criatividade para atuar no espaço urbano sem simplesmente destruir o passado, mas sim construir com o passado.

O Recife nunca teria um Bairro Gótico. Ele já teria sido demolido para a construção de altos edifícios de apartamento e comerciais (quem sabe bem espelhados!); sem criatividade alguma para fazer o novo se adaptar ao antigo, ou respeitar a passagem do tempo na cidade.

Ver as casas da João de Barros com tapumes e imaginá-las transformadas numa grande torre de minúsculos apartamentos, vendidos a preço de ouro, partiu meu coração.

Cada vez mais o Recife é uma cidade sem memória, sem identidade. Uma cidade que se apaga como se fosse desenhada com lápis grafite, nas pranchetas de investidores que observam de longe, mas não andam por suas ruas.

Restarão uma casa e a igreja espremidas, numa metrópole que não sabe como crescer e respeitar sua memória e seus moradores. Restarão o engarrafamento diário, o som das buzinas e a grosseria dos motoristas - que me fizeram ficar vários minutos observando o que já não é a Av. João de Barros; em frente às casas que podem já não estar de pé neste sábado chuvoso.

Restarão as fotos de família.

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