sexta-feira, 6 de março de 2015

A arte que encontra a gente em todo lugar

O mundo é um ovo. Qualquer um que pense o contrário cedo ou tarde mudará de ideia. Posso estar um dia no Recife e no outro em Florença. E o inverso também é possível. Hoje fizemos um passeio chamado "Conhecendo a Florença Secreta". Um tour pelas ruas menos visitadas pelos turistas, com informações talvez um pouco diferentes de quem faz o roteiro dos grandes guias de viagem.

Uma brasileira, uma alemã, um espanhol, uma francesa, uma belga e uma argentina. O guia era italiano. Das famílias ricas que financiavam a arte, os Médici eram os mais importantes por aqui e muito de tudo que vimos foi construído, planejado e concluído com o dinheiro e o poder dos Médici.

Em Florença é possível ver conservadas ruínas do período romano e construções de várias épocas e estilos artísticos. Do que restou da Segunda Guerra Mundial, do que foi reconstruído, do que foi preservado e de todas as histórias em cada trecho das ruas, vê-se uma cidade rica em arte, em movimento, em vida; com gente tão diversa quanto o nosso grupo de estudantes.

Dante Alighieri, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Brunelleschi, Vasari, Rafael Sanzio, Donatello - uma tarde conhecendo uma parte pequena de tudo o que é possível encontrar não só nos museus, mas em cada rua de Florença.

No fim do dia, depois de tanta informação e de tanta beleza, rumo ao bar - que ninguém é de ferro! E então, mais uma surpresa. Entre uma conversa e outra em tantas línguas, uma música chama a atenção. Demoro alguns segundos para confirmar que era mesmo Luiz Gonzaga e sua "Que nem Jiló" no som ambiente da livraria-bar na qual entramos por acaso numa rua do caminho.

Direto ao balcão, perguntar à atendente de onde vem aquela seleção musical, ao que ela naturalmente responde: "- Estive no Brasil há 20 anos; passei alguns meses viajando por Pernambuco, pelo Sertão e fui ao Rio Grande do Norte também". Natalia conta que adora música brasileira e forró e revela que todas as segundas-feiras, neste mesmo bar, acontece um forró! Com um trio de zabumba, sanfona e triângulo! Um arraial no meio de Florença!!! Toda segunda!

Meu queixo no chão e a lembrança imediata de que na Suécia, em 2009, descobrimos e fomos a um forró no meio de Estocolmo, que acontecia uma vez por mês. A arte é universal e a música talvez seja a expressão maior dessa universalidade. Clássica ou popular.

Em italiano não se diz "ouvir a música", mas sim "sentir a música". Desde a primeira vez que me explicaram isso achei tão lindo e tão maravilhoso que um idioma "fale" em "sentir a música", "sentir o som". Sentir Luiz Gonzaga em Florença esta tarde foi emocionante e confirmou para mim, mais uma vez, a máxima do "mundo pequeno". Aqui em Florença, em Estocolmo e em Pernambuco Luiz Gonzaga criou algo que exprime um sentimento que ultrapassa o entendimento de qualquer idioma.

Saímos do bar ao som de Geraldo Azevedo (Natalia havia trocado a trilha sonora) e seguimos cada um para sua "casa" temporária por aqui. Falando de futebol, música, arte, economia e cultura; numa mistura de idiomas que poderiam fazer qualquer diálogo incompreensível, mas que simplesmente faz sentido quando se tem boa vontade e interesse pelo próximo; quando se "sente" quem e o que está ao seu redor.



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