terça-feira, 7 de abril de 2015

Eu vi o Papa e ele é pop

Se vir a Roma e não ver o Papa é como nunca ter estado na cidade (segundo um ditado popular brasileiro), então esta foi a minha primeira vez neste lugar mágico. Quando joguei minha moeda na Fontana de Trevi em 2013 desejei voltar incontáveis vezes a Roma e não apenas uma. Desejei ter com Roma a relação que tenho com o Rio de Janeiro. De me sentir uma “local”. Acho que o desejo está se realizando e espero que continue assim. Firenze é linda. Lucca é uma casa de bonecas e estar um dia naquela muralha medieval foi incrível. As outas cidades que visitei até agora são igualmente belas. Mas Roma foi amor à primeira vista; foi um encantamento sem explicação que tem se repetido a cada retorno.

Desta vez voltei na Páscoa, para encontrar Rosane e Nacho – dois amigos queridos que moram em Zaragoza, na Espanha, e estavam numa mini Lua de Mel romana. Não tenho vocação para vela e por isso cheguei em Roma só no sábado (04 de abril), para passarmos uma tarde e um pedaço da noite colocando o papo em dia. Foi massa! Roma é tudo de bom e com amigos é muito melhor.

Choveu o dia todo, um frio de lascar e pra completar eu ainda “amadorizei”: deixei a sombrinha no hotel. Então foi um dia de corre pra lá e pra cá e de rezar pra chuva não chegar enquanto estivéssemos no meio da rua. O santo da gente é forte e pegamos apenas chuvisco a maior parte do tempo. Quando a chuva chegou forte, com ventos, raios e trovoadas, já estávamos no caminho do hotel. Foi um dia incrível, com direito a passear na Piazza del Popolo, pelo Campo de Fiori e seguir caminhando para Trastevere.

No dia seguinte, domingo de Páscoa, os meninos voltaram pra casa e eu segui, no frio e na chuva, para o Vaticano, determinada a ver a Missa de Páscoa com o Papa Francisco. E foi o que eu fiz. Cheguei com a missa já iniciada, passei pelo detector de metais e na Piazza de San Pietro o papa era um pontinho branco no meio da porta da basílica e uma imagem, bem maior, no telão. Mas uma imagem distante. Pra mim estava bom. Todas aquelas pessoas diferentes, de nacionalidades diversas, juntas no mesmo espaço, celebrando a paz. Achei que era um ambiente ideal para passar a Páscoa.

Sou batizada, frequento a missa de vez em quando, mas não boto muita fé na Igreja Católica. Tenho uma religião própria: uma mistura de crenças e superstições que me fazem dizer que não tenho religião. Creio numa energia, no respeito ao próximo, na força do pensamento e no querer bem. Na missa católica a parte que mais me emociona é “a paz de Cristo”. Acho bonito quando as pessoas se cumprimentam e desejam a paz, apertam as mãos e se dirigem a desconhecidos. Fazer isso na Praça de São Pedro com todas aquelas pessoas diferentes foi o mais emocionante pra mim. Mesmo sabendo que depois da missa cada um foi para a sua casa e muito daquela comunhão foi esquecida no primeiro passo fora do Vaticano, me senti num ambiente de amor e paz.

O sermão do Papa foi forte, falou da violência, dos massacres na África (até então eu não sabia do atentado que matou 150 pessoas no Quênia, pois estava sem acessar a internet), da responsabilidade de cada um e de cada nação para alcançar a paz. Foi bonito, foi mais político do que muitos esperavam. Foi marcante.

Francisco já havia ganho a multidão muito antes do sermão, pelo seu carisma, e porque antes de seguir para a parte final da missa, de repente, não mais que de repente, entrou num papamóvel e começou a circular pela Praça de São Pedro - acenando e distribuindo sorrisos, bem pertinho de todo mundo, inclusive de mim.

De modo que eu posso dizer que vi o Papa Francisco a uma distância de 10 passos – mesmo com a minha altura pouco recomendada para momentos como estes, nos quais a multidão cresce bastante na frente dos baixinhos. Entre ver o Papa e fotografar o Papa fiquei com a primeira opção (certamente errada nos tempos pós-modernos, mas a mais acertada para mim, que me satisfaço em experenciar).

Vi Francisco, ele sorria, e acenou para mim e para todos que estavam na mesma direção. Foi emocionante. E não esperava sentir e dizer isso. O Papa Francisco é um bom marqueteiro e tem carisma; e reconheço que está falando e fazendo coisas que “modernizam” o discurso da Igreja Católica (apesar de não me convencer enquanto instituição).

Quando Francisco terminou o circuito e finalizou com o sermão político-religioso a multidão já estava totalmente dominada, encantada com aquela figura religiosa, política, festiva. Um papa popular.

Segui o meu caminho por Roma pensando que Francisco foi o segundo papa que vi. O primeiro foi João Paulo II, no Recife, quando eu tinha 3 anos, na visita de 1980. Não lembro da cara do papa nesta época, óbvio, mas lembro de estar na Agamenon Magalhães, nos braços da minha tia, com minha irmã nos braços da minha avó de criação, e de ouvir elas falando: “Olha lá o papa!!! Dê tchau para ele!” (ou algo parecido). E lembro do Papa passando num carro – que hoje acredito que era um papamóvel também.

Neste domingo de Páscoa ninguém mandou, mas eu acenei para o Papa, Francisco, totalmente dominada pelo seu carisma. É isso. “Só sei que foi assim”. Que a paz esteja conosco. Não apenas no domingo de páscoa, mas em cada dia, todos os dias.

* A foto do telão, de longe, é o que eu tenho pra mostrar. :-)

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