quarta-feira, 29 de abril de 2015

Uma reflexão

Cheguei na Itália no inverno, com temperaturas que variavam de -1 °C a 12 °C e com uma chuvinha gelada que caía de vez em quando. No meu primeiro dia em Florença, a caminho da aula, caiu um temporal. Foi quando comprei uma sombrinha do primeiro ambulante que cruzou a minha vista. Entre muitas de cores escuras, havia só uma azul.

Azul de meio de manhã, de céu limpo, em dia de sol e sem nuvens.

Por dois meses, quando chovia, fui a moça do guarda-chuva azul. A sombrinha era "peba", mas resistiu bem e até acompanhou a missa de Páscoa no Vaticano. Semana passada, depois de um temporal com ventania, me despedi da sombrinha azul. Foi uma boa companheira.

Mudou a estação. Aumentaram as temperaturas. Agora as árvores são verdes e as ruas são cheias de flores. O céu já tem com mais frequência o tom parecido com o da minha sombrinha azul. Mudei de fase.

Mais uma dentro de um processo longo de mudança e autoconhecimento que não começa com esta viagem. É bem anterior a ela. Na verdade, esta vivência italiana é o fim de uma etapa, o fechamento de um período de transformação.

Ah, os clichês! Nada mais clichê do que mudar o visual ou fazer uma viagem para marcar o fim ou o início de uma fase da vida. Mais clichê que isso, apenas escrever isso! Eheheheheheheh... Sendo eu uma pessoa que assumidamente admira os ditados populares - cheios de clichês e sabedoria - me permito pensar e escrever essa bobagem necessária para registrar este encerramento. "Cada dia com a sua agonia". "É preciso viver um dia depois do outro". "Depois da tempestade vem a bonança" (ou a primavera!).

Além do conhecimento adquirido (porque não se viaja para o Velho Continente sem que essa cultura exerça um impacto grande na vida), penso que levo daqui bons amigos. E isso é bem inesperado pra mim. Gente diferente, com experiências distintas e ao mesmo tempo com muita coisa em comum. Muita vida pra trocar, muito afeto pra compartilhar. Me sinto feliz e já tenho saudade também.

Não sei o que acontecerá quando voltar ao Brasil. A viagem continua, mas os planos começam a exigir alguma ordem e agora me divido entre experimentar o novo de cada dia e programar o futuro imediato pós-retorno. Tenho muito trabalho pela frente e isso me deixa entusiasmada.

A realidade às vezes não permite que a gente rompa padrões, transforme radicalmente a existência. Tenho conhecido por aqui muita gente que decidiu mudar a vida, ou que procura uma saída, mas ainda não encontrou uma forma, ou não tem como mudar. A realidade às vezes, simplesmente e sem alternativas, se impõe. Inclusive em favor das mudanças inesperadas.

Tendo isso em mente, posso dizer que me sinto tranquila e em paz por ter podido planejar essas mudanças. Independente do que me espera na volta ao Recife, posso dizer que tenho aprendido e experimentado, trocado conhecimento e afeto e reforçado também algumas certezas. De que ponto de vista eu vejo o mundo, o que me indigna e o que admiro, quem são e onde estão as pessoas, as forças e as ideologias com quem quero caminhar lado a lado. É isso. Que venha o dia de hoje!

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