sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Puentevaqueros e Alhambra - emoções diferentes

Ontem eu fui a um pueblo aqui perto de Granada, chamado Puentevaqueros, onde Lorca nasceu e viveu os primeiros 7 anos de sua vida. Lá tem um Centro de Estudos Lorquianos e um museu-casa também. Saí cedo do hotel, em direção a um terminal de onde saem os ônibus para os pueblos. Não adiantou muito ter corrido pra chegar o mais rápido possível lá porque descobri que os ônibus só passam de hora em hora; e como eu cheguei lá às 10h15, teria que esperar 45 minutos pelo próximo transporte. Apesar de o lugar ser cerca de 10 minutos de ônibus daqui, não dá pra ir a pé porque o caminho é por rodovias.

Enfim, não me restava muita coisa a não ser esperar e observar. Enquanto eu esperava o próximo transporte para Puentevaqueros reparei que neste terminal só chegavam velhinhos. Esperavam um pouquinho, chegava o ônibus e eles embarcavam para algum desses lugares que ficam aqui perto de Granada.

Vi várias velhinhas iguais à minha avó (roupas coloridas, cabelo arrumado penteado meio pra cima, batom, brinco de pressão, anéis, sapatinho de velhinha, e dentro da bolsa uma bolsinha de moedas, que além de dinheiro, leva uns papeizinhos - se você perguntar, elas não vão saber por que estão ali, mas também não vão querer jogar fora). E tinha vários vovôs também: calça social atacada alta, logo abaixo do peito, cabelo penteado, uma barriguinha, sapato social, às vezes boné, às vezes bengala, às vezes os dois.

No ônibus que me levou a Puentevaqueros eu era a mais nova. Depois de mim, o mais novinho tinha bem uns 70 anos! E fiquei com a impressão de que nos pueblos moram os velhinhos da Andaluzia.

Ontem eu me emocionei, mas não chorei. No caminho fui vendo as cidades do interior de Pernambuco. eheheheheh... só que em vez de cana-de-açúcar, por aqui eles plantam milho. E Puentevaqueros poderia ser qualquer cidade dessas. Garanhuns, Gravatá, Pesqueira, Belo Jardim, Rio Formoso... pense numa cidadezinha do interior de Pernambuco ou da Paraíba e você também estará em Puentevaqueros. Ia ter festa na praça principal e o pessoal do Ayuntamento estava enfeitando o lugar e colocando iluminação especial.

Conheci o Centro de Estudos Lorquianos e visitei a casa-museu. Meu encantamento desta vez foi por ver o lugar da primeira infância de Lorca e também objetos e lembranças do seu grupo de teatro: o La Barraca. Era um grupo de teatro de rua, que se apresentava nos pueblos encenando pecas clássicas da literatura espanhola. Vi objetos relativos à Sapateira Prodigiosa e o mais legal são as poucas imagens de Lorca ainda vivo que eles passam numa espécie de documentário. Ele representando a Morte na peca "A Vida é Sonho", de Calderón de La Barca; e imagens divertidas, da montagem dos cenários do La Barraca e de Lorca com os amigos (sempre sorrindo, feliz, com cara de quem era amado). Fiquei feliz de poder ver tudo isso.

Voltei pra casa, fiz a siesta e depois segui para Alhambra (fala-se Alambra); uma fortaleza do apogeu do domínio mulçumano por estas bandas e que foi tomada pelos cristãos na Idade Média. É um lugar encantado. O detalhamento das paredes, as cores, os jardins... de uma riqueza cultural enorme e que deve dar um trabalho danado para conservar do jeito que está. Não consegui entrar em todos os palácios (porque o lugar é muito grande e são muitas subidas e descidas). Apesar de toda a beleza, o que mais me chamou atenção foi um sistema de canais, fontes e piscinas que passa por toda a fortaleza. É esta água que jorra por todos os lados, que irriga os jardins e também uma plantação de abóbora e uvas que vi por lá, que dá uma sensação de paz ainda maior (aquele barulho de água corrente, lembrando sempre que estamos sempre de passagem, que a vida segue).


* Diário de uma viagem / agosto-2013 / publicado no facebook (23/08/2013)

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