sábado, 17 de agosto de 2013

Sobre estereótipos, cidades e o futuro

Eu me perdi! Às vezes se perder é se achar. (filosofia de botequim, mas é uma verdade). Ao contrário de Roma, onde eu estava hospedada numa área bem central e onde eu sabia exatamente aonde ir logo na chegada, graças ao meu guia e GPS particular, Nando, que me explicou em detalhes até onde eu sairia no metrô! (Obrigada querido!); aqui em Barcelona eu vim orientada pelo Google Maps.  E por desconfiar do Google Maps, eu me perdi! kkkkkkkkkkkkkkk...

Entrei pela entrada errada da estação, tive que carregar a mala por 200 escadas (porque claro que eu também não achei os elevadores e escadas rolantes!) e, distraída, desci na estação errada e fui parar num bairro bem mais distante. Me achei graças aos espanhóis! (Eu tenho realmente sorte com as pessoas!)

Neste ponto vou falar sobre estereótipos. Não são bons, mas fazem parte da vida. A gente normalmente carrega uma imagem pré-formada de algumas coisas e às vezes toda uma população acaba pagando por um estereótipo. Fora o fato de que muita gente sai de casa esperando encontrar pessoas e culturas iguais à sua e nada disposto a entender o diferente. Na casa dos outros, siga a regra deles; é importante!

A minha imagem dos povos latinos é a seguinte: portugueses são literais e objetivos; italianos são explicados e objetivos; brasileiros são prolixos e não gostam de serem diretos por medo de que isso soe como indelicadeza; e espanhóis são objetivos. Eles são diretos e usam frases no imperativo. É apenas isso; não é grosseria; é o jeito deles.

Quando desci na estação errada do metrô, pedi informações a uma funcionária e ela viu logo que eu estava no lugar errado e falou: "Volte! Siga por aqui, desça nesta outra e estará lá!". Objetivamente. E abriu a porta de entrada de volta da estação para eu entrar, mas eu não vi. Achei que estava quebrada e fui passar novamente o tíquete do metro, ao que ela prontamente ordenou: Não paga!!! Passa!!!; e eu passei. Eu poderia ter considerado uma grosseria ela ter mandado eu passar, mas na verdade foi uma gentileza. Então, agradeci: Gracías!; ao que ela respondeu: De nada! Vai com Deus!!! (e sorriu).

Do mesmo jeito quando eu desci na estação certa, um senhor passou caminhando rapidamente por mim e falou, sem parar de caminhar: - Residência Ágora?; Eu: - Sim; Ele (sem parar de andar): - Não pare! Siga em frente, vire à esquerda e depois à direita e estarás lá! Você vai conseguir! (e quando ele falou a última palavra já estava uns 10 passos na minha frente); - Gracías!!! (gritei, feliz por ter recebido o incentivo).

Estou numa residência de estudantes, num bairro afastado do centro, mas com metrô super perto. Muito boa, confortável e com um café da manhã excelente. As redondezas são bem arborizadas, tem um velódromo bem na frente da residência, que fica ao lado de duas universidades. Tem umas faixas na saída do metrô protestando contra a privatização do espaço.

Aqui e em Roma vejo que os europeus lutam pra não perder conquistas de importantes de um estado de bem-estar social. Em Roma vi vários protestos sobre perda de benefícios na saúde e no ônibus de turismo aqui em Barcelona, a narração fala sobre as lutas da população para ter uma cidade mais adequada com a sustentabilidade e o bem-estar do cidadão. O europeu não tem medo ou vergonha das suas lutas; não acha que parar o trânsito para protestar é uma vergonha que merece manchete nos jornais. Eles sabem e valorizam a importância das conquistas.

Andar em Barcelona ou em Roma é ver como o Recife perdeu a chance de ser uma cidade "do futuro". Nunca será uma Barcelona. Nunca será Roma. Eu ri sozinha ontem no tal ônibus de turismo, quando numa região a narração diz: "ao lado, à esquerda, è possível ver uma torre alta, com vidros espelhados... nela estão blá, blá, blá...". Não sei o que tem na torre alta e pra falar a verdade nem vi a torre. O prédio mais alto que tinha nesta área era de 8 andares (OITO ANDARES!!!! E eles consideram alto demais!!!).

Não tem como não lembrar do debate levantado pelo Ocupe Estelita. O Recife não pode ser Roma, nem Barcelona, mas poderia ser uma Copenhagen (uma cidade belíssima, com tradição de navegação, cheia de ciclovias, com um transporte público mais que eficiente e mobilidade total). Mas continuamos querendo ser Dubai... era esse o debate, né?! Dubai é fantástica se pensarmos que ali era um cenário de areia de deserto. Dubai era areia de deserto e virou Dubai. Bom pra eles! Recife tem vida, história, pulsa... não è areia de deserto. Deveríamos almejar ser Copenhagen. Seríamos fantásticos e latinos, fantásticos e quentes!


* Diário de uma viagem / agosto-2013 / publicado no facebook (17/08/2013)

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